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Novela 'Amor à Vida' revolta sindicato de enfermeiros e chacretes

23 ago 2013 - 16h46
(atualizado às 16h47)
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<p>Ordália, personagem de Eliane Giardini em 'Amor à Vida'</p>
Ordália, personagem de Eliane Giardini em 'Amor à Vida'
Foto: TV Globo / Divulgação

Por mais fantasiosas que sejam as novelas, elas funcionam como uma lente de aumento e retratam fatos cotidianos e situações vividas por muitos de seus espectadores. Por isso, há sempre alguma identificação entre os personagens e quem está sentado no sofá. Às vezes, são as mocinhas, sempre sofrendo de amor. Outras, são os funcionários, nunca reconhecidos por seus patrões. Ou até mesmo pais, sempre mal interpretados pelos filhos. O problema se dá quando essa aproximação entre o real e a fantasia incomoda uma categoria profissional. "Os folhetins mostram como a vida é, não como deveria ser", alfineta Walcyr Carrasco, autor de Amor à Vida. A atual trama das nove teve problemas com Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo e também com ex-chacretes.

Em sua novela, Márcia, interpretada por Elizabeth Savalla, e Ordália, de Eliane Giardini, foram os alvos das reclamações. O fato da ex-chacrete admitir já ter sido prostituta, ter ficha na polícia e desconhecer a paternidade de sua filha Valdirene, papel de Tatá Werneck, irritou as antigas dançarinas do Chacrinha. "Por causa da novela, tenho vergonha de dizer que fui chacrete. Quem não me conhece pode pensar que eu sou como ela", defende-se Edilma Campos, que trabalhou com o Velho Guerreiro por quatro anos sob o codinome de "Rainha do Palmeiras".

Para Elizabeth Savalla, intérprete da ex-chacrete Tetê Parachoque e ParaLama, a ordem é se distanciar da polêmica. "As pessoas têm a mania de levar tudo ao pé da letra. Acho uma bobagem, até porque é ficção. Fiz esse personagem como se fosse um resgate do que foram as chacretes, dentro dessa área segura e distante da realidade", defende Savalla.   

Além de enfrentar a fúria das ex-dançarinas, Amor à Vida também encara problemas com o Sindicato de Enfermeiros do Estado de São Paulo. O fato de Ordália e Glauce, de Leona Cavalli, terem ajudado Bruno, vivido por Malvino Salvador, e adulterado os registros de um parto indignou a categoria. "Personagens com conotação erótica e criminosos, por exemplo, geram estereótipos negativos e tornam permissiva a possibilidade da sociedade julgar os trabalhadores como são televisionados", argumenta Elaine Leoni, presidente do SEESP. Assim como as ex-chacretes, a associação enviou à emissora cartas de repúdio aos personagens, mas não pensa em mover um processo.

O problema da Globo com as enfermeiras, no entanto, é reicidente. Em Duas Caras, exibida pela emissora em 2007, a personagem de Flávia Alessandra também foi o alvo das críticas do mesmo sindicato. Na trama de Aguinaldo Silva, Alzira fingia ser uma enfermeira para esconder do marido que trabalhava em uma casa de massagem. O autor nega que a escolha da profissão tenha sido feita de forma pejorativa. "Para não despertar suspeitas, Alzira escolheu o disfarce que considerou mais decente", argumenta Silva.

A inovação da Globo em colocar três empregadas domésticas para protagonizar Cheias de Charme, de 2012, é outro caso que não foi bem visto aos olhos da categoria. O Sindicato das Empregadas Domésticas do Rio de Janeiro entrou com uma ação civil pública, por danos morais, contra a emissora, pela música Vida de Empreguete, composta por Quito Ribeiro. Se para o compositor o "hit" era uma brincadeira, para as verdadeiras "empreguetes" o assunto ficou sério. "O neologismo imposto à palavra empregada aniquila a importância social do nosso trabalho", reclama a presidente do sindicato.

Já no SBT, Tiago Santiago enfrentou um movimento parecido quando escreveu Amor e Revolução, em 2011. A trama foi a primeira novela a abordar o tema da ditadura militar no Brasil, que durou entre os anos de 1964 e 1985. A abordagem do assunto em uma novela irritou os militares. "Fizeram um abaixo assinado para tirar a novela do ar. Um ato estapafúrdio, porque a censura é proibida no nosso País", defende-se o autor. No abaixo assinado, foi levantada a hipótese da trama ter sido encomendada pela Comissão da Verdade, órgão que investiga violações de direitos humanos ocorridas no período ditatorial. O requerimento chegou ao Ministério Público Federal, que indeferiu o pedido. "Felizmente a ditadura e a censura acabaram e hoje a gente pode contar uma história sem medo. Ou deveria poder", analisa Santiago.

Contra a maré 

Apesar das críticas que Glória Perez recebeu no desenrolar da trama de Salve Jorge, um elogio em particular deu mais embasamento à autora na hora de construir as sequências de Helô, personagem de Giovanna Antonelli. O Sindicato dos Delegados da Polícia Militar de Minas Gerais enviou para Glória um documento parabenizando os feitos da algoz do grupo de traficantes de Lívia Marine, vilã interpretada por Cláudia Raia. "É com imensa satisfação que podemos nos expressar com sentimento de honra, haja visto que em outras novelas a figura do delegado de polícia sempre foi tratada de forma jocosa e, por vezes, ofensiva", dizia o documento dos sindicalistas.

A repercussão da personagem foi tão grande que há a possibilidade de criação de uma série na qual Helô seja a protagonista. Giovanna não descarta a ideia. "Ainda não estou sabendo de nada concreto, mas vou adorar fazer. A Helô ainda me prende de certa forma", enfatiza a atriz. Para a autora, o objetivo do folhetim não era entrar em polêmicas e políticas, e sim homenagear os profissionais que participaram da instalação da Unidade de Polícia Pacificadora do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. "A personagem da Giovanna, inclusive, retrata o destaque que certas delegadas têm no processo de transformação de cidades", avalia Glória.

Instantâneas

Nazaré Tedesco, famosa vilã interpretada por Renata Sorrah, acumulou maldades em Senhora do Destino, mas irritou o Sindicato da Construção Civil por um leve xingamento. A cruel antagonista chamava Josivaldo, de José de Abreu, de "pedreiro fedido". "Isso gera indignação de milhões de pedreiros que diariamente assistem à novelas de banho tomado", protesta o presidente do sindicato. 

A enfermeira Raquel, interpretada por Letícia Birkheuer, em Desejo Proibido, também sofreu fortes críticas do Sindicato de Enfermeiros. Segundo a organização, a sensualidade da personagem vulgarizava a imagem da categoria.

O canal pago Viva teve de suspender a exibição da missérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes. Isso porques famílias de alguns seringueiros, inclusive de Chico Mendes, estão processando a emissora por uso indevido de imagens.

Em A Favorita, de 2008, Donatela, personagem de Cláudia Raia, era maltratada por uma carcereira. Por conta disso, o Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo ameaçou entrar com uma ação contra a Globo. "Gerou revolta porque trabalhamos muito para mudar a imagem que nós tínhamos e, em poucos capítulos, a novela acabou com a nossa moral", reclama João Rinaldo Machado, presidente do sindicato.

Fonte: TV Press
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