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Novelas abordam cada vez mais o tema favelas em suas histórias

14 out 2012 - 08h32
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Mariana Trigo

A reprodução das favelas em novelas e seriados caminha para o realismo. As primeiras referências ao tema começaram em Partido Alto, em 1984, primeira trama que abordou o funk carioca, que veio dos morros do Rio de Janeiro. Na sequência, diversas produções começaram a pincelar o assunto, como a minissérie Bandidos da Falange e Pátria Minha, a primeira novela a construir uma pequena favela em cidade cenográfica para explorar o assunto. Daí em diante, autores e diretores começaram a se aprofundar na representação da vida nas comunidades carentes. Como Glória Perez, que ambienta parte de Salve Jorge, próxima novela das nove, da Rede Globo, no Complexo do Alemão - conjunto de 13 favelas na Zona Norte da capital fluminense. Tanto que, hoje em dia, além da fidedigna reprodução do cotidiano do crime e da pacificação em favelas, algumas tramas começam a se preocupar em mostrar como surgiu esse gênero de comunidade no país. Lado a Lado, por exemplo, retratou até o "bota-abaixo" promovido pelo então prefeito do Rio, Pereira Passos, em 1904, que derrubou cortiços no Centro da cidade. A partir daí, os pobres passaram a ocupar os morros ¿ a começar pelo Morro da Providência -, construindo barracos com a madeira que recolhiam pelas ruas. "Esse tema está sendo pedido para ser explorado há muito tempo. Precisávamos contar a história de como tudo começou", salienta Claudia Lage, que assina Lado a Lado com João Ximenes Braga.

Favela é um dos temas mais abordados na teledramaturgia
Favela é um dos temas mais abordados na teledramaturgia
Foto: Afonso Carlos/Carta Z Notícias / Divulgação

Em Salve Jorge, além das gravações iniciais no Complexo do Alemão, foi construída uma cidade cenográfica de 1800 m², com 14 prédios. No entanto, a trama mostra uma outra faceta da favela que ainda não havia sido mostrada nas novelas: a comunidade pacificada, que tem um visual mais organizado, segundo a cenógrafa da trama, Erika Lovisi. "A pacificação do Alemão foi um momento histórico. Parou o país. Queria retratar isso para contar a história de amor de uma moradora com um capitão da Cavalaria", explica Glória Perez. "Frequentei muito o Alemão para viver a Morena. As pessoas da comunidade estão orgulhosas de serem representadas na novela. Querem trazer a voz da comunidade", anima-se Nanda Costa, protagonista do folhetim que estreia no próximo dia 22, na Globo.

No entanto, a Rede Record foi pioneira na teledramaturgia em gravar tramas dentro de favelas. Em Vidas Opostas, de Marcílio Moraes, o diretor Alexandre Avancini registrou grande parte da história na Comunidade Tavares Bastos, no Catete, Zona Sul do Rio. As locações eram barracos de verdade e a verossimilhança das cenas era tanta que a trama obteve uma das maiores audiências da emissora na teledramaturgia. "Passei um ano gravando dentro da favela. Era uma dinâmica muito difícil, mas fazer novelas em locações é o grande diferencial da Record. Cidade cenográfica engessa a criatividade", avalia Avancini.

Mas não é de hoje que a Rede Globo investe em favelas "cenográficas". Em Duas Caras, pela primeira vez, uma novela da emissora contava com uma favela - a fictícia Portelinha - que abrigava parte do núcleo central da trama. "Não dá mais para fazer novela contemporânea e que se passa no Rio sem ter favela", avalia Aguinaldo Silva, que também incluiu uma favela em Senhora do Destino.

O início da abordagem mais maciça do tema começou após o curta Palace 2, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, apresentado na série Brava Gente em 2001. Foi então que o assunto começou a ganhar cada vez mais destaque na tevê além dos noticiários. Em seguida, o longa Cidade de Deus, que havia estourado no cinema, deu frutos à série televisiva Cidade dos Homens, uma parceria da Globo Filmes com a O2, também dirigida por Meirelles. Na sequência, a emissora ainda lançou o seriado Antônia, em 2006, de Tata Amaral. A produção deixou de focar na violência das favelas para começar a mostrar outros aspectos das comunidades carentes, como o descaso com a saúde. "Estava na hora de mostrar a vida da periferia de outro jeito, que não representasse apenas a violência e a miséria", destaca a diretora.

Vivência obrigatória

Para os atores que interpretam personagens favelados, a composição exige intimidade e um aprofundamento com o universo "marginal" das comunidades carentes. Nathália Dill, por exemplo, que interpretou a determinada mocinha Viviane em Escrito nas Estrelas, começou a trama de Elizabeth Jhin como habitante do Morro Dona Marta, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Várias das sequências da história foram gravadas lá e a atriz teve de se habituar com os costumes dos moradores da comunidade para compor a protagonista. "Fiquei uma semana inteira gravando na favela. Aquilo me ajudou a observar mais o universo da cidade, as pessoas que lutam para sobreviver. O ritmo de gravações foi pesado e todo aquele contexto formou minha personagem", analisa.

Já Nanda Costa chegou em Salve Jorge ambientada com o universo das comunidades. Afinal, antes de receber o convite de Glória Perez para protagonizar a próxima trama das nove da Globo, Nanda havia feito o longa Sonhos Roubados, de Sandra Werneck, onde havia interpretado uma menina de comunidade carente que tinha uma filha pequena. "Minha preparação para a novela começou lá atrás, no filme. Um dos motivos que fez a Glória me chamar para a novela foi ter assistido ao longa", acredita Nanda.

Instantâneas

# Em "Duas Caras", Lázaro Ramos interpretou Evilásio, um herói que morava na fictícia Portelinha e sofria preconceito racial e social ao se apaixonar pela mocinha Júlia, de Débora Falabella, moradora da Lagoa, na Zona Sul da cidade. "A novela levou as pessoas a diversas reflexões. Que visão é essa que a gente tem da favela?", indaga.

# Caminhos do Coração, novela de Tiago Santiago na Record, contava com a fictícia favela Paraisópolis, onde morava o mutante Vavá, interpretado por Cássio Ramos.

# Sol, protagonista vivida por Deborah Secco, em América, seria uma favelada na sinopse original da trama. Mas a personagem virou moradora de Vila Isabel, bairro da Zona Norte do Rio.

# No cinema brasileiro, a abordagem das favelas começou em 1935, com o longa Favela dos Meus Amores. Em seguida, longas como Rio 40 Graus, de 1955, de Nelson Pereira dos Santos, e Cinco Vezes Favela, rodado em 1962, por cinco diretores, começou a destacar ainda mais o cenário como tema no cinema nacional.

Fonte: TV Press
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