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Novelas se tornam cada vez mais marcadas por mulheres vingativas

20 mai 2012 - 09h04
(atualizado às 09h12)
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Mariana Trigo

A busca por justiça é um dos motes mais recorrentes nos folhetins. Nas novelas, muitas heroínas e personagens de destaque são movidas a fazer justiça com as próprias mãos, o que confere às mocinhas contornos mais humanizados. Avenida Brasil, por exemplo, traz à tona uma história de revanche que ainda chama atenção por ser protagonizada por uma mocinha aparentemente frágil. Enquanto a vingança masculina era bastante usada em clássicos como Hamlet, conhecida como a "tragédia da vingança" de Shakespeare, ou o denso Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, a teledramaturgia tem utilizado cada vez mais a figura feminina explicitando a igualdade dos gêneros na atualidade.

Na trama das oito da Globo, Rita/Nina (Débora Falabella) faz tudo para se vingar da ex-madrasta Carminha. Afinal, a vilã matou o pai da menina e a abandonou, ainda criança, em um lixão. Para Débora, a intenção da personagem é acertar as contas com Carminha para poder viver em paz, zerando o passado. "Ela nunca vai conseguir ser feliz se não se vingar desse desamparo que sofreu", afirma a atriz.

O mesmo ocorre em Chocolate Com Pimenta, de Walcyr Carrasco, que está sendo reprisada na TV Globo. Frágil e delicada, Ana Francisca se vinga de todos que a tratavam com desprezo e a humilhavam na fictícia Ventura. Na história de época, a personagem - inspirada em A Viúva Alegre, de Franz Lehár, e em A Visita da Velha Senhora, de Durrenmatt - é expulsa e humilhada em sua cidade, retornando anos depois, rica e poderosa. "Uma das maiores vinganças é enriquecer. Esse trabalho é inesquecível na minha carreira", diz Mariana.

Mas nem sempre a vingança move apenas as mocinhas e são justificadas pela justiça nas histórias. Vilãs emblemáticas, como a Laura, de Celebridade, demonstram comportamentos vingativos psicopatas. Na história de Gilberto Braga, a personagem de Claudia Abreu acredita que o pai foi injustiçado por Maria Clara Diniz (Malu Mader) e faz de tudo para destruir a inimiga. "Ela era uma vilã genuína, que matava, enganava e humilhava por vingança. Sempre sonhou em ter a vida da Maria Clara e achava que suas maldades eram justificáveis", analisa Claudia.

Por ironia, Malu, que foi alvo de vingança em Celebridade, também se destacou como uma personagem vingativa anos antes, em O Dono do Mundo. Na história, a protagonista se casava "donzela" e, na lua de mel, perdia a virgindade não com o marido, mas com o vilão Felipe Barreto (Antônio Fagundes). Além de lidar com a tragédia do suicídio do marido, vivido por Tadeu Aguiar, a personagem começou a ser rejeitada pelo público e se transformou. Virou uma mocinha vingativa, com o objetivo de destruir a vida do médico, interpretado por Fagundes.

Igualmente enganada foi Norma (Glória Pires) em Insensato Coração. Depois de se apaixonar por Léo (Gabriel Braga Nunes) e ter ido parar na prisão por seis anos por causa do vilão, a personagem quis fazer justiça a qualquer custo. Chegou a torturá-lo quando o manteve em cárcere privado, por dias. "Ela viveu a realidade 'matar ou morrer' na prisão. Isso fez com que ela passasse a questionar a ética quando saiu da cadeia", filosofa Glória.

Na tragédia grega, muitas vezes a vingança era autodestrutiva. Como é o caso de Medéia, que após matar o irmão, assassina os próprios filhos para se vingar de uma traição. Na teledramaturgia, no entanto, as vinganças, mesmo as vilanescas, são mais brandas. Quando ocorre com as mocinhas, ela segue uma linha justiceira, sem assassinatos ou violência. Em Duas Caras, por exemplo, Maria Paula (Marjorie Estiano) é enganada por Ferraço, um golpista que se casa com a jovem ingênua, rouba sua fortuna e a abandona. O começo do troco veio capítulos depois, após passarem dez anos. Foi quando a personagem descobriu a verdadeira identidade do vilão e o desmascarou, começando, assim, um longo plano de vingança.

No entanto, em uma das raras exceções da teledramaturgia, o vilão se arrependeu dos desacertos do início e a vingança foi substituída pelo perdão da protagonista. "Queria muito que ela se vingasse de todo o sofrimento que ele causou. Ela tinha um ódio obsessivo, mas acabou perdoando", diz Marjorie.

Crime e castigo

Movido pela vingança, o ódio feminino por algumas vezes chega a confundir em certas histórias. Em A Favorita, por exemplo, demorou até que o público descobrisse que Flora, (Patrícia Pillar) era a verdadeira vilã da trama, de João Emanuel Carneiro. Na história, de início dúbio, a mulher começou a se revelar invejosa, mostrando que queria roubar tudo de Donatella (Cláudia Raia). Para o autor, que volta a tratar do tema em Avenida Brasil com a anti-heroína Nina/Rita, a grande discussão da é questionar se os fins justificam os meios quando se trata de vingança. "É certo agir errado por uma causa nobre? Cada vez mais eu entendo que os personagens precisam ser complexos, como já pensava Dostoiévski, que propõe papéis com mil paradoxos", afirma.

InstantâneasAvenida Brasil tem muitas semelhanças com a série Revenge, criada por Mike Kelley e exibida pela ABC. No ar no Brasil pelo Sony no Brasil, a produção também conta a história de uma protagonista movida pelo desejo de vingança. Ambas as personagens se vingam de pessoas que destruíram sua família e mataram o pai ainda na infância.

Tieta, protagonizada por Betty Faria, em 1989, é uma das personagens mais vingativas da teledramaturgia. Após ser expulsa da fictícia cidade de Santana do Agreste pelo próprio pai, que a encontrou com um homem, ela retorna anos depois, sedenta por vingança.

Malu Mader é uma das atrizes que mais interpretou anti-heroínas vingativas em novelas. Além de Márcia, de O Dono do Mundo, em Fera Radical a atriz viveu a enigmática Cláudia. Após ter assistido à chacina de sua família ainda na infância, ela retorna à antiga cidade para se vingar dos culpados que incendiaram sua casa.

Em Passione, Mariana Ximenes, na pele da ambiciosa Clara, se vinga de Saulo, personagem de Werner Schunemann, que a violentou na infância. Anos depois, ao seduzi-lo, ela o assassina colocando uma faca embaixo de um travesseiro e chamando-o para se jogar sobre ela na cama.

Tramas têm focado em personagens cheias de rancor
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Foto: Afonso Carlos/Carta Z Notícias / Divulgação
Fonte: TV Press
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