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'Araguaia' é previsível, mas garante a qualidade do elenco

20 fev 2011 - 08h09
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Daniele Ramiro

Com um bom e pequeno elenco, Walther Negrão escreveu uma história que se esperava ser contada com leveza. Mas, logo nos primeiros meses, Araguaia fraquejou. Na primeira fase, o suspense cercado de misticismo iniciado com a morte de Fernando, personagem de Edson Celulari, não comoveu e muito menos convenceu. E a novela não arrecadou bons números no Ibope. Mas a belíssima fotografia do Rio Araguaia ajudou muito. O paraíso ecológico, que para muitos brasileiros foi mostrado com ineditismo, serviu como elo de interesse para o público com a trama rural. Nomes de veteranos da telematurgia, como Lima Duarte, Laura Cardoso e Júlia Lemmertz deram créditos para a produção. Não somente pelos trabalhos consagrados do currículo, mas também pelas boas cenas escritas para eles.

Quem acreditava que o poderoso fazendeiro Max, de Lima Duarte, se resumiria em um típico coronel de cidades interioranas, se depara com um vilão articulado e manipulador. Suas grosserias são apaziguadas por doçura e serenidade quando contracena com Júlia Lemmertz. A interpretação da boa mãe neutraliza qualquer clima pesado. Até mesmo quando a personagem se volta para sua faceta de mulher apaixonada por Vitor, de Thiago Fragoso - um homem muito mais jovem, e ex-noivo da sua filha Manuela, vivida por Milena Toscano. O adultério recebido de forma compreensível, apesar de ousado, não agride. Créditos também para o núcleo humorístico com a presença de Mariana Rios, a Nancy, além de Nando Cunha, que vive o palhaço Pimenta. Ambos dão conta da comicidade nas entrelinhas do texto. Até mesmo as cenas dramáticas, que envolvem o passado do artista circense, não comprometem o desfecho dos personagens que se dão muito bem em cena.

Os exageros ficam mesmo por conta das magias do núcleo indígena. As aparições fantasmas, maldições e feitiços da tribo karuê não recebem o tom de seriedade que deveriam. Estela, de Cléo Pires, responsável por grande parte dessas cenas, vive em confronto com Manuela. Ambas disputam o amor do domador de cavalos Solano, de Murilo Rosa. Ora se odeiam, ora conseguem conviver com cordialidade. Algo mais que contraditório. Afinal, em algumas cenas, a veterinária mais parece uma felina selvagem querendo eliminar sua presa. Ver as duas trabalhando juntas em uma campanha publicitária, como sugestão da própria da Manuela, confunde e esvazia o embate.

Em sua reta final, o folhetim tem engatado sequências curiosas, típicas das novelas que tentam até forçar a barra para prender o público, como o desfecho da provável amaldiçoada gravidez de Estela. Assim como o rumo da maldição que acompanha os homens da família do mocinho Solano. Até agora tem sido uma incógnita saber se o amor proibido da indígena será o fator decisivo para o fim de séculos de uma morte predestinada do protagonista.

Deixando de lado os desfechos da história com ares de "déjà vu", outros detalhes da produção se sobressaem. Mário Monteiro e Juliana Carneiro mostram um belo trabalho cenográfico, aliado à direção de Marcos Schechtmann, que marca a produção através de imagens solares que deram certo no passado em produções como O Clone e A Casa das Sete Mulheres.

Araguaia - Globo, de segunda a sábado, às 18h.

Cleo Pires e Milena Toscano se destacam como atrizes de 'Araguaia'
Cleo Pires e Milena Toscano se destacam como atrizes de 'Araguaia'
Foto: TV Globo / Divulgação
Fonte: TV Press
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