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Jayme Matarazzo sobre ser ator: "acho que tem muita coisa artificial"

16 ago 2013 - 18h35
(atualizado em 17/8/2013 às 14h24)
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"Eu não tinha a intenção de atuar", diz Jayme Matarazzo sobre carreira de ator
"Eu não tinha a intenção de atuar", diz Jayme Matarazzo sobre carreira de ator
Foto: Luiza Dantas/Carta Z Notícias / TV Press

Jayme Matarazzo poderia muito bem ser um típico "filhinho de papai". Membro do famoso clã paulistano e neto da cantora Maysa, o intérprete do Maurício de Sangue Bom, no entanto, preferiu trilhar seu próprio caminho e batalhar por sua independência artística. Tanto que, depois de sua estreia, em Maysa – Quando Fala O Coração, de 2009, só emendou trabalhos em equipes diferentes da de seu pai, o diretor global Jayme Monjardim. "É uma das coisas que mais me deixam feliz. Acho que é um prêmio, ainda mais para uma pessoa que quer explorar outras coisas mais para frente, que gosta de direção", vibra.

Foi o desejo de se tornar diretor, inclusive, que o levou para a carreira de ator. Na época estudante de Cinema, Jayme viu na minissérie sobre a vida de sua avó uma oportunidade para exercitar o que vinha aprendendo na faculdade. Além disso, estaria ao lado do pai em um momento importante. Já que a produção, escrita por Manoel Carlos, também contava um pouco da história de sua família. "Topei fazer, mas não queria ficar à toa, não queria ser o filho ali. Queria ser o quinto, o oitavo assistente. Só não queria, do dia para noite, ser um cara que não estivesse trabalhando", recorda. Mas, diante da dificuldade da equipe em encontrar um ator para interpretar Jayme Monjardim na fase jovem, ele acabou aceitando o convite de encarnar o próprio pai na ficção. "Eu não tinha a intenção de atuar. Foi mais para viver e entender aquela história, homenagear meu pai, minha avó. Nunca foi meu plano", frisa.

Em Sangue Bom, você interpreta seu segundo protagonista em novelas. Mas, desta vez, divide o posto com outros cinco atores. Alivia a pressão e a responsabilidade?

Eu acho que nunca é um peso. É claro que é uma responsabilidade gigantesca, mas é um prestígio estar à frente de uma história. Não é o prestígio de estar ali como protagonista. Sou muito apaixonado por contar história, de várias maneiras, seja com fotografia, com direção, com música... Aí, você pega esse posto de protagonista, que geralmente é formado por um casal, e aposta em seis jovens, que têm muita disposição de fazer e se sentem felizes. O trabalho fica mais real, mais honesto.

Como foi sua preparação para encarnar o Maurício?

Foi estudar um pouco, enxergar sem nenhum tipo de preconceito – o que eu acho importante – esse mundo do glamour, da celebridade e do entretenimento. Fui olhar o que está acontecendo agora nesse mundo das "it girls", de postagem de "look" na internet, os fenômenos que surgem da internet, da moda. Além disso, como laboratório, busquei coisas que eu já havia passado. O pai do meu personagem é dono de uma agência de publicidade e eu já tinha trabalhado em uma agência por quatro anos. Aproveitei para visitar algumas agências e resgatei essa época da minha vida.

Quando foi essa sua experiência em uma agência?

Quando eu tinha 18 anos, eu tenho 27. Fiquei até os 22 trabalhando na Banco de Eventos. A gente fazia muito evento corporativo. Eu trabalhava na parte artística. Com 18 anos, eu cuidava de uma equipe com 100 pessoas, estava fazendo tudo que era arte, música, teatro, apresentação que tivesse plenário, vídeo.

E por que você foi parar nesse trabalho?

Sempre quis trabalhar com direção e sempre gostei de comandar equipe. Eu estava no começo da faculdade e me vi querendo uma profissão que mexesse com equipe. E o José Victor Oliva foi um padrinho meu. Ele sabia que eu era um moleque ativo e me convidou para fazer um estágio lá. Fui contratado, efetivado, ganhei um cargo legal e fui ficando. Sempre me joguei demais nas coisas. E nunca aceitei muitos desafios ao mesmo tempo porque sei o quanto me entrego para cada um deles. Caio de cabeça mesmo. Essa coisa de atuar do nada, tão rápido, o nome disso é entrega. Não é vaidade, nunca foi isso para mim.

E como você lida, hoje em dia, com a exposição e a fama que um ator que trabalha na tevê acaba tendo?

Nunca tive essa pretensão da fama, nunca lidei com ela de uma forma muito confortável no sentido do quanto ela tira da sua privacidade. Eu sou um cara tímido, caseiro. Mas entendo cada vez mais esse mundo. Eu vivo nesse mundo desde pequeno. Por isso, nunca quis participar muito dele. Eu vi essa coisa da exposição, da fama desde pequeno. Não pelo meu pai, mas pelas pessoas que estavam próximas. Vi gente nascendo na televisão. Quantos caras meu pai lançou que eram promessas e o quanto a vida os modificou. Eu tenho um pouco de receio. Sou muito verdadeiro, muito real. E tudo que se torna artificial me incomoda. Acho que tem muita coisa artificial nesse mundo.

Apesar de nunca ter pensado em trabalhar como ator, logo depois de sua estreia, em 2009, você encarou um protagonista em Escrito nas Estrelas, no ano seguinte. Como surgiu essa oportunidade?

Fui levar alguma coisa para o meu pai no Projac. Eu estava com o cabelo bem encaracolado na época e uma produtora de elenco me viu e falou: "Vi você em Maysa e estou fazendo teste para uma novela. Você é a cara de um personagem, porque ele tem de ter um rosto angelical. Faz um teste para mim?" As coisas estavam acontecendo de uma maneira tão maluca e tão honesta que poderia ter sido totalmente outra coisa. Aceitei e peguei o protagonista. Foi uma coisa do tipo "Vai e faz. Aprende e vai".

Em cinco produções na tevê, você já trabalhou com cinco equipes diferentes. A que atribui essa variedade?

Acho que é dedicação. Quem me conhece sabe que sou muito dedicado. Faço com a maior verdade que pode existir dentro de mim. Eu não tenho mesmo aulas e aulas. Não estudei, não sabia que era isso que eu queria, não tive tempo. Eu adoraria agora parar e estudar várias coisas. Me sinto um cara corajoso e sensível a ponto de fazer para valer, de verdade. Eu quero aprender com todo mundo ali dentro. Estou muito mais querendo ouvir do que falar.

Em pouco tempo de carreira, você tem interpretado perfis de personagens diferentes, como o príncipe Felipe, em Cordel Encantado, e o grafiteiro Rodinei, em Cheias de Charme. Como busca se diferenciar a cada papel? 

Eu quero, a cada trabalho, me reciclar. O quanto eu serei capaz de fazer isso o tempo todo ou com êxito? Tomara que eu seja capaz. Mas acho necessário. E também acho necessário a gente não ter pudor com a estética. Não pensei duas vezes para raspar o cabelo e ficar com um bigodinho durante sete meses para fazer o Rodinei. O personagem era aquilo. Assim como, hoje em dia, eu sou bem largado no jeito como me visto. E o Maurício é vaidoso. Então, nesses últimos tempos, já me peguei me vestindo melhor, me obrigando a isso porque o personagem vai pensar nisso. E eu preciso dar vida para essas coisas. Precisava não ficar incomodado com a camisa para dentro, com uma gola aqui. E eu sempre odiei usar camisa para dentro. São pequenas coisas, mas que vão me ajudando a entender esses mundos. A gente vai aprendendo a olhar a vida por diferentes ângulos através dos personagens.

Você estudava Cinema na época em que fez uma participação em Maysa – Quando Fala O Coração. Chegou a se formar?

Faltam 2 semestres. Eu adoraria voltar. Até liguei para o diretor da faculdade e falei: "Sei que não fui um aluno exemplar na minha faculdade" – porque eu já trabalhava – "mas pode ter certeza que fiz uma faculdade da vida real muito sinistra. Eu quero muito acabar o curso, o que eu faço?". Pedi ajuda para saber o que ele achava que tinha de legal no Rio. Na hora que der, volto. Odeio coisa incompleta. Mas tenho certeza do quanto valeu a pena ir para a faculdade real, da vida. O que eu estou aprendendo hoje vai me ajudar tanto no dia em que eu quiser estar por trás das câmaras.

Tem algum projeto nesse sentido?

Tenho vários. Queria muito ter feito um documentário sobre grafite e teria feito agora, quando ainda não sabia que estaria na novela. Comecei a fazer por mim mesmo. A cada encontro que eu tinha com os caras na época do laboratório que fiz para Cheias de Charme, eu levava a 7D (linha de câmara da marca Canon) e deixava correr. Mas é muito difícil fazer alguma coisa em paralelo com a novela. Eu aplaudo os meus amigos que conseguem fazer teatro ao mesmo tempo.

Falando em teatro, é algo que você tem vontade de experimentar?

Tenho. Já recebi vários convites legais, que fiquei tentado a fazer, mas não deu tempo. Eu tive um mês e meio entre uma produção e outra. Não dá para fazer nada. E eu ainda estava tentando entender essa profissão.

E acredita que agora entende melhor?

Acho que agora eu sei administrar melhor. Sei, com certeza, compreender, lidar e me aventurar melhor. Me sinto cada vez mais seguro, mais capacitado e com mais vontade de aprender, que é o mais legal. Tenho uma segurança de que domino um pouco mais aquilo que faço e que antes era feito no susto. Hoje em dia, é feito um pouco mais na construção. E me sinto orgulhoso de ter tido coragem de enfrentar várias coisas que não eram fáceis, orgulhoso por ter aceitado desafios tão difíceis e saber que fiz eles com verdade. E fiz por mim mesmo. Não fiz para ninguém e nem por nada.

Rotas paralelas

Depois da primeira experiência na tevê, em Maysa – Quando Fala O Coração, Jayme Matarazzo nunca mais trabalhou com o pai, o diretor Jayme Monjardim. Simplesmente, não aconteceu. Mas é algo que o ator não negaria, se uma nova oportunidade surgisse. Por mais que se orgulhe de ter trilhado um caminho independente. "Se, por acaso, naturalmente, a gente se esbarrar, vou ficar muito feliz. Mas, se não for para ser natural, acho que a gente não precisa ter pressa", ressalta.

Jayme sempre encarou com tranquilidade o fato de, frequentemente, ver seu nome relacionado ao do seu pai. E preferiu, diante disso, se empenhar ainda mais em seu trabalho em vez de se sentir incomodado. "Por não ter como fugir e por sentir muito orgulho de ser filho do meu pai, acho que troquei o incômodo pela força de vontade. Eu tenho muita alegria pelo modo como as coisas foram acontecendo", dispara.

Vencido pelo cansaço

No início da carreira, Jayme, de certa forma, não se aceitava como ator. Depois de sua estreia na tevê, recebeu um convite para participar de um teste para o filme A Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor. Sem grandes pretensões, foi. Mas, ao saber que tinha sido aprovado e, ainda por cima, para interpretar o protagonista, sua primeira reação foi dizer "não". Até que o próprio Jabor insistiu e chegou a ligar para Jayme durante quatro dias seguidos. Os dois, enfim, tomaram um café, conversaram e o ator acabou aceitando. "Lembro que me via como um bichinho assustado, contracenando com Marco Nanini,  Dan Stulbach, Mariana Lima, Maria Flor. Fiz aquilo com muita alma, mas muito assustado", recorda. 

Fonte: TV Press
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