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'Amor e Revolução' tem boa história e nenhuma dramaturgia

9 abr 2011 - 08h16
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Mauro Trindade

Foram poucas as vezes que a ditadura militar brasileira foi tema de telenovelas, caso de Amor e Revolução, que o SBT estreou segunda passada. Em 1993, a Globo chegou a exibir Anos Rebeldes, em dimensões de minissérie. E a Record apresentou em 2006 a novela Cidadão Brasileiro que, em uma de suas fases, tinha os Anos de Chumbo como pano de fundo. E, claro, antes disso muitos folhetins falaram metaforicamente da ditadura. Uma maneira de ludibriar a censura tacanha com críticas veladas ou mais escancaradas, como na fantástica Saramandaia, de 1976.

Outras produções não tiveram a mesma sorte e foram totalmente vetadas, a exemplo de Roque Santeiro, em 1975. Mas, em sua maioria, eram mutiladas com cortes de cenas ou de capítulos inteiros, a exemplo de Irmãos Coragem, de 1970, O Bem-Amado, de 1973, Gabriela, de 1975, Guerra dos Sexos, de 1983, Vereda Tropical, de 1984, entre muitas outras.

Amor e Revolução vai demorar um pouco para engatar. Os primeiros capítulos, como é costumeiro acontecer, simplesmente apresentam os personagens e prenunciam o que vai acontecer. O episódio de estreia, em especial, foi uma grande "trailer" no qual o autor Tiago Santiago e o diretor Reynaldo Boury tiveram de socar todos os acontecimentos que antecederam o golpe de Estado. Evidentemente tudo ficou confuso, superficial e sem grande verdade histórica.

Mas ficção não é documento e a novela não tem a menor obrigação de ser um relato fidedigno do que houve no Brasil - e no mundo - nos anos 60 e depois. E também fica como licença poética uma série de equívocos na reconstituição de época, como a ausência do rádio como o meio de comunicação mais difundido, um figurino e uma cenografia um tanto frouxos, locações duvidosas e um elenco mais do que corpulento para uma década onde quase todos eram magrinhos e de cara chupada. Os corpos obesos ou malhados de 2011 dão outro visual.

Também fica por conta do "estilo de época" as explosões espetaculares provocadas por granadas de mão com a força de bombardeio aéreo. E tiroteios de dar inveja a um Duro de Matar. Felizmente perseguições de carro ficaram de fora, assim como devem ficar longe do vídeo o merchandising mais descarado.

Nada disso é problema de verdade em um bom folhetim. O que incomoda realmente em Amor e Revolução é quase completa ausência de dramaturgia, aqui entendida como a totalidade dos recursos narrativos e interpretativos que autor, diretor e elenco dispõem. Isso ficou claro na preferência da edição em diálogos dos personagens em plano e contraplano, quer dizer, em imagens isoladas dos atores, que não interagem em um mesmo enquadramento. Em resumo, faltou contracenar.

Amor e Revolução - SBT - Segunda a sexta, às 22h12.

'Amor e Revolução' fala sobre a época da ditadura militar
'Amor e Revolução' fala sobre a época da ditadura militar
Foto: SBT / Divulgação
Fonte: TV Press
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