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José Mayer fala sobre beijo gay: "representação de amor"

Marcado como um dos grandes pegadores das novelas globais, ator se aventura na pele de um gay enrustido em 'Império'

6 ago 2014 - 10h54
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José Mayer vive o cerimonialista Cláudio em 'Império'
José Mayer vive o cerimonialista Cláudio em 'Império'
Foto: Jorge/Carta Z Notícias / Divulgação

José Mayer é quase uma instituição. Presente no imaginário coletivo como o maior pegador da teledramaturgia nacional recente, há alguns anos ele mesmo parou de se preocupar com possíveis limitações artísticas e passou a se divertir com perguntas do tipo ''quantas você vai pegar nessa novela, Zé?''. No papel do criativo Cláudio de Império, Mayer se vê em um momento de diversificação da carreira. É claro que as questões de gênero não impedem que ele conquiste mais de uma pessoa na nova trama de Aguinaldo Silva. Mas agora, além de ser par de Suzy Rêgo, intérprete da moderna Beatriz, o ator divide cenas tórridas com o jovem Klebber Toledo, que interpreta Leonardo, o apaixonado amante de Cláudio. ''Meu personagem é completamente seguro de si. Mas, assim como milhões de homossexuais, não faz questão, não quer assumir publicamente suas preferências. Eu acho que as pessoas têm amplo direito de terem essa privacidade'', defende.

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Nascido na pequena cidade mineira de Jaguaraçu, aos imperceptíveis 64 anos, Mayer se empolga com as possibilidades de seu novo trabalho. ''É uma forma de surpreender o público e de estar à frente de um personagem muito rico. Ele terá problemas com a esposa, com o parceiro e com o filho, que é homofóbico. Mas toda a abordagem está sendo tratada com muita delicadeza pelo Aguinaldo'', garante. Acostumado aos mais variados núcleos dentro da Globo desde que estreou na emissora, em 1977, Mayer não esconde a afinidade que tem com o texto de Aguinaldo, responsável por personagens importantes de sua carreira, em produções como Bandidos da Falange (1983), Tieta (1989) e Senhora do Destino (2004/05). ''Devo boa parte da minha popularidade como ator aos personagens que o Aguinaldo me confiou. É um autor que sempre me promove novidades, impossível recusar um chamado dele'', valoriza.

TV Press - Personagens gays não são novidade para você. Sua estreia no teatro, em 1969, inclusive, foi interpretando um homossexual. Você acha que demorou a ser escalado para este tipo de papel na tevê?

José Mayer - Bastante, não é? Mas na televisão é isso: se você se destaca em certos tipos de papel, será chamado para fazer muitos semelhantes. Isso não é uma queixa. Adoro meus personagens e guardo diferentes lembranças de cada um. Se eu quis fazer, é porque de alguma forma me senti empolgado. Como estou agora com o Cláudio. Mais uma vez, Aguinaldo me chama para fazer algo diferente do que eu tenho sido escalado. Na idade em que estou, isso não pode ser desperdiçado.

TV Press - Pelo tanto de heróis e garanhões que você tem no currículo, Cláudio surge como uma quebra de paradigma?

Zé Mayer - Com certeza. Só que agora o que muda são as concepções do personagem. É a segunda vez, em pouquíssimo tempo, que Aguinaldo promove um rompante na minha carreira. Em Fina Estampa (2011), ele me queria como galã, mas eu estava cabeludo e barbudo por conta do musical Um Violonista no Telhado. Ele respeitou esse momento e me escalou para um dos papéis mais loucos da minha carreira, o Pereirinha. O público ainda não tinha me visto daquela forma na tevê. Foi muito revigorante fazer aquele anti-galã.

TV Press - O que agregou à sua carreira?

Zé Mayer - Elemento surpresa, que é algo que falta um pouco nas coisas que fiz na TV. Todo mundo já espera me ver como galã. Alterar essa rota é enriquecedor para o ator, como também para o olhar do telespectador. O Cláudio representa uma maravilhosa reversão de expectativas. Se ele tivesse surgido há uns 10 anos, talvez tivesse tido mais personagens diferentes ao longo da década. A cada capítulo que chega, me sinto mais curioso em como o Aguinaldo vai desenvolver a história desse homem.

TV Press - Ao contrário de outros personagens gays criados pelo autor, Cláudio foge dos exageros e caricaturas. Isso facilita ou dificulta seu trabalho?

Zé Mayer - Acho que deixa tudo ainda mais complexo. Quando o personagem vai para a composição, existe a ajuda maravilhosa de um figurino, trejeitos, voz e caracterização. No caso do Cláudio, sou eu, as referências e a minha atuação. É um personagem rico, interessante, com uma abordagem mais sutil da homossexualidade, sem caricatura, sem farsa e muito reconhecível. O público poderá se identificar muito com ele.

TV Press - A novela ainda está no início, mas já é possível sentir a recepção do público ao Cláudio?

Zé Mayer - Tudo é muito novo ainda. Nem eu acho que já consegui o tom certo para ele, mas acredito que a televisão está deixando todo o seu tradicionalismo de lado para refletir o que está nas ruas. São histórias que precisam e merecem ser contadas com verdade e o respeito que qualquer outro tipo de personagem exige. Ser gay hoje é bem diferente do que ser gay há 40 anos. A gente percebe, vive, testemunha isso. Hoje, as preferências sexuais e a diversidade são muito mais aceitas. Eu espero aceitação total do público. O texto do Aguinaldo reflete todo esse momento com habilidade e delicadeza. Nós, atores, tentamos realizar de maneira delicada e natural também.

TV Press - A questão do beijo gay, tão incensada por tramas recentes como Amor à Vida e Em Família, é discutida nos bastidores de Império?

Zé Mayer - Sim, mas com uma grande evolução.

TV Press - Como assim?

Zé Mayer - Não queremos criar um espetáculo em torno do que deveria ser visto como cotidiano e simples. O beijo é a representação do amor, da afeição. O beijo gay ser guardado para o capítulo 200 é hipocrisia. Essa festa que se arma em torno de finais de novelas, aguardando o excepcional, já deu. É uma bobagem. Acho que é uma questão de as pessoas começarem a assimilar um pouco melhor a expressão de afeto homossexual. Eu não vejo nenhum problema nisso e adoro meus parceiros de cena, seja a esposa do Cláudio, que é interpretada pela Suzy Rêgo, ou o amante dele, feito pelo Klebber Toledo. Estamos muito seguros em relação a qualquer tipo de sequência.

TV Press - Embora tenha trabalhado em diversos núcleos dentro da Globo, Manoel Carlos e Aguinaldo Silva são os autores mais presentes em sua trajetória. O que o atrai no texto dos dois?

Zé Mayer - Eu gosto muito de como o Manoel enxerga e retrata os momentos simples da vida. Ao mesmo tempo que gosto das ousadias estilísticas do Aguinaldo. São autores complementares para a minha carreira. Cada um alimenta a minha atuação ao seu jeito. Meu primeiro trabalho com Aguinaldo foi Bandidos da Falange, uma série com ar jornalístico e cheia de ação. Depois, fui com ele para o Nordeste, em Tieta. Após isso, nos reencontramos quando ele já estava mais urbano, em Senhora do Destino. A gente está sempre perto um do outro. E, de alguma forma, ele sempre tenta me instigar como ator. Seja pelo lado do personagem ou pela repercussão.

José Mayer se consagrou como galã do horário nobre logo no começo da carreira
José Mayer se consagrou como galã do horário nobre logo no começo da carreira
Foto: TV Globo / Divulgação
TV Press - Como assim?

Zé Mayer - O ator quer ser visto, quer ver seu trabalho reconhecido. Todos temos essa vaidade. E basta analisar meus trabalhos com Aguinaldo para entender que ele sabe o que o ator quer ou precisa. Todos foram novelas das oito, que agora são das nove, e foi só sucesso de audiência. Mesmo nos trabalhos controversos dele, sempre tive personagens fortes e, por vezes, excêntricos.

TV Press - Algum personagem assinado pelo Aguinaldo o marcou de forma mais intensa?

Zé Mayer - Fica difícil eleger um, mas do ponto de vista comercial, de popularidade, o Osnar, de Tieta, foi ímpar. A novela foi um estouro como um todo e pelo destaque que meu personagem tinha na trama, acabou colocando meu nome na boca do povo. Do ponto de vista artístico, me divido entre o Teobaldo, de A Indomada (1997), que era um tipo bem complexo, e o Pereirinha de Fina Estampa, que renovou minha imagem e minha atuação perante o público.

Herói assumido

O olhar faminto, malicioso e a postura viril acabaram por reservar a José Mayer o posto de galã de inúmeras tramas. Entre sucessos como História de Amor (1995) e Laços de Família (2000/01), e trabalhos controversos como Viver a Vida (2009/10) e Páginas da Vida (2006/07), só Manoel Carlos o escalou para interpretar o macho-alfa de suas tramas por seis vezes. Próximo de fazer 65 anos, em outubro, o ator não guarda qualquer ranço dessa limitação, mas acredita que sua escalação para o posto de galã começa a ficar mais complexa. ''Galã é uma função ligada à juventude. A menos que os teledramaturgos escrevam histórias românticas para homens maduros e sessentões como eu, fica cada vez mais difícil convencer'', opina.

Para o ator, dois personagens são responsáveis por colocá-lo no posto de galã: o Fernando de Fera Radical (1988) e o Osnar de Tieta. O primeiro pela força cênica e o segundo pela popularidade que obteve durante a exibição da trama. ''Sem a empatia do público, ninguém vira mocinho. Sem querer, fui construindo essa história ao longo dos anos. Nunca cansei de ser galã. Mas, em alguns momentos, recusei o posto em detrimento de trabalhos que me tirassem da zona de conforto'', assume.

Foco nos estúdios

José Mayer já está acostumado a conciliar trabalhos simultâneos na TV e no teatro. As gravações de Fina Estampa, por exemplo, ele fez entre as apresentações do musical Um Violinista no Telhado. No entanto, para Império, resolveu se resguardar um pouco. Embora não seja protagonista da trama, seu personagem é um dos que mais gravam. ''Eu até tinha alguns convites para o teatro, mas, quando olhei os primeiros roteiros, vi que seria muito sacrificante fazer as duas coisas ao mesmo tempo. É um personagem que me tira do lugar-comum, preciso focar no Cláudio'', destaca.

Trajetória Televisiva

Sítio do Picapau Amarelo – (Globo, 1977) – Burro Falante

Bandidos da Falange – (Globo, 1983) – Jorge

Guerra dos Sexos – (Globo, 1983) – Ulisses

Partido Alto – (Globo, 1984) – Piscina

A Gata Comeu – (Globo, 1985) – Edson

Selva de Pedra – (Globo, 1986) – Caio

Hipertensão – (Globo, 1986) – Raul

Fera Radical – (Globo, 1988) – Fernando

O Pagador de Promessas – (Globo, 1988) – Zé do Burro

Tieta – (Globo, 1989) – Osnar

Meu Bem, Meu Mal – (Globo, 1990) – Ricardo

De Corpo e Alma – (Globo, 1992) – Carlos

Agosto – (Globo, 1993) – Alberto

Pátria Minha – (Globo, 1994) – Pedro

História de Amor – (Globo, 1995) – Carlos

A Indomada – (Globo, 1997) – Teobaldo

Meu Bem-Querer – (Globo, 1998) – Martinho

Laços de Família – (Globo, 2000) – Pedro

Presença de Anita – (Globo, 2001) – Fernando

Esperança – (Globo, 2002) – Martino

Mulheres Apaixonadas – (Globo, 2003) – César

Senhora do Destino – (Globo, 2004) – Dirceu

Páginas da Vida – (Globo, 2006) – Gregório

A Favorita – (Globo, 2008) – Augusto

Viver a Vida – (Globo, 2009) – Marcos

Fina Estampa – (Globo, 2011) – Pereirinha

Saramandaia – (Globo, 2013) – Zico

Império – (Globo, 2014) – Cláudio

Fonte: TV Press
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