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'O Rebu': mistura de filme noir e suspense marcam o remake

31 jul 2014 - 12h49
(atualizado às 12h51)
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Feixes de luz entram por uma cortina entreaberta, uma sala com iluminação reduzida, tons frios, femmes fatales tragam cigarros e bebem drinks em uma festa de arromba. Um crime. Um "herói" dúbio, que promete resolver qualquer problema. Poderiam ser elementos de O Rebu, remake da TV Globo que tem dado o que falar pela beleza de sua produção, mas são itens bastante comuns em clássicos dos filmes noir. Na estreia da novela, muitas comparações foram feitas. 

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O remake 'O Rebu', da TV Globo, chamou a atenção por buscar uma fotografia fria e uma estética que lembra e muito os filmes noir
O remake 'O Rebu', da TV Globo, chamou a atenção por buscar uma fotografia fria e uma estética que lembra e muito os filmes noir
Foto: TV Globo / Divulgação

A realidade é que, a cada dia que passa, o folhetim tem se mostrado mais e mais como um grande clássico do cinema e bem menos como uma novela tradicional como o público conhece tão bem. Chamou a atenção um plano sequência logo no primeiro capítulo, em que a câmera percorre a pista de dança e apresenta cada suspeito, um a um. Ali, já é possível notar as primeiras inimizades, os amores contidos, as traições veladas. A estética da trama é tão diferente, que chega a ser difícil para o público identificar o programa como uma novela das onze. Os capítulos são curtos, dois blocos em média.  A história anda rápido e a cada novo episódio uma novidade é revelada. Vai além do mistério estabelecido de cara, que traz Bruno (Daniel de Oliveira) boiando morto na piscina. Há um certo prazer em assistir a uma novela que, de tão bem feita esteticamente, salta aos olhos.

São muito elementos do noir: a fotografia em tons bastante frios e usados como elemento de dramaticidade, a iluminação de baixa intensidade, o uso recorrente da fumaça na pista de dança, a chuva e a névoa que envolvem a aréa da piscina, onde o corpo foi encontrado. Um abuso do uso de janelas e espelhos, que aparecem aos montes na Mansão Mahler, além dos enquadramentos cheios de closes e zooms.

Além disso, esquecendo um pouco o noir, há um abuso de câmeras lentas - como na cena em que Duda (Sophie Charllote) dançam ao som de Eu Te Amo, de Chico Buarque - e dos flashbacks, responsáveis por mostrarem todo o desenvolvimento da história.

O remake 'O Rebu', da TV Globo, chamou a atenção por buscar uma fotografia fria e uma estética que lembra e muito os filmes noir
O remake 'O Rebu', da TV Globo, chamou a atenção por buscar uma fotografia fria e uma estética que lembra e muito os filmes noir
Foto: TV Globo / Divulgação

Geralmente, no filme noir, os protagonistas masculinos são dúbios. Os ditos mocinhos são cheios de defeitos e todos desconfiam e julgam suas atitudes. Não há tantos limites morais claros, como acontece em praticamente todas as novelas. Foge do padrão maniqueísta. É fácil ver isso em O Falcão Maltês (1941), de John Huston, considerado o primeiro grande filme noir, e até nos recentes Los Angeles - Cidade Proibida (1997), de Curtis Hanson,  e Sin City (2005), de Frank Muller e Robert Rodrigues. Este último, demonstra com excesso e exagero o uso dos elementos do noir.

Em O Rebu, porém, a dubiedade se estende a todos os personagens, sejam homens ou mulheres. Todos têm segredos. Todos são bons e maus. Niguém é anjo ou demônio. É fácil perceber isso em Braga (Tony Ramos), por exemplo.

Quando falamos em noir, também não podemos esquecer do que caracteriza os elementos femininos. Há um independência, uma sensualidade latente. As mulheres assumindo o controle que sempre foi da parte masculina da história. Só em O Rebu, existem diversos exemplos. Angela (Patrícia Pillar) é o exemplo clássico de um personagem dúbio. Ninguém sabe quem é ela. Chega a ser engraçado ver os telespectadores buscando e ansiando saber se ela é boa ou má. A mente do público está tão acustumada ao maniqueísmo das novelas, que é quase impensável que não haja um vilão clássico, que faz apenas maldades e um mocinho pronto para choramingar por isso. Provalvemente, Angela é ligada aos dois lados. Tem o mau e bom dentro de si.

Duda (Sophie Charlotte) é a beleza caracterizada. Aparentemente, uma mocinha mimada típica. Na realidade, uma mulher cheia de desejos e força dentro de si. Um papel muito bem representado pela diva Rita Hayworth. E não é uma comparação, já que isso seria praticamente um sacrilégio. Rita era a musa do noir, fez diversas produções, algumas que marcaram a história do cinema, como A Dama de Xangai (1947), de Orson Welles. 

Sem falar em Gilda (Cássia Kis Magro), que leva até o nome de um filme clássico do gênero, feito em 1946 por Charles Vidor e estrelado por Hayworth. Sempre fumando um cigarro, bebendo um drink e seduzindo qualquer um. Os personagens  masculinos são muito importantes, normalmente, protagonistas, mas são as femme fatales que brilham o tempo todo.

Em O Rebu, elas dominam a cena, os personagens masculinos ficam apagados diante de tanta atitude. Não espantaria nada ver uma delas no papel de assassina de Bruno. 

Clássicos

Para quem gostou da estética exibida pela novela, vale a pena se aprofundar um pouco mais no tema e ver de onde a inspiração veio. Confira sete filmes que marcaram a história do cinema e fazem parte da categoria noir:

1) O Falcão Maltês (1941)

É considerado o pioneiro do cinema noir. Na história, o detetive particular Sam Spade (Humphrey Bogart) é procurado por uma mulher misteriosa e é contratado para achar a irmã dela. Acontecimentos estranhos tornam a história macabra e uma busca desenfreada por uma estátua de um falcão. A direção é de John Huston. No elenco, estão ainda Mary Astor, Peter Lorre e Gladys George.

2) À Beira do Abismo (1946)

Também estrelado por Humphrey Bogart, o filme conta a história do detetive particular Philip Marlowe, que é contratado pelo milionário Sternwood, que diz estar sendo chantageado por Joe Brody. Há dois anos, ele havia dado US$ 5 mil para que o rapaz deixasse sua filha Carmen em paz.

3) Gilda (1946)

No filme dirigido por Charles Vidor e estrelado pela diva Rita Hayworth, Johnny Farrell é um vigarista, especialista em jogos de cartas. Ele é contratado por Ballin Mundson, dono de um clube noturno em Buenos Aires, que esconde um cassino, atividade proibida no país. A amizade entre os dois é baseada na total falta de escrúpulos. E é abalada quando Mundson volta de uma viagem casado com Gilda, uma mulher com quem Johnny teve um caso no passado.

4) A Dama de Xangai (1948)

O filme de Orson Welles é protagonizada por Michaek O'Hara, que se apaixona perdidamente pela fatal Elsa, casada com o promotor criminal Arthyr Bannister. Durante uma viagem, o parceiro de Bannister, George Grisby, pede ajuda de O'Hara para forjar sua morte para receber o seguro de vida. Michael planeja fugir com Elsa depois que Grisby lhe pagar a sua parte.  Porém, Grisby é encontrado morto de verdade e Michael é acusado do homicídio.

5) Pacto de Sangue (1944)

A história do longa de Billy Wilder se baseou em um crime real, em que uma mulher casada convence seu amante a matar seu marido, após comprar uma apólice de seguro com cláusula de indenização dobrada. Na história real, os assassinos foram presos. É estrelado por Fred MacMurray, Barbara Stanwyck, Edward G. Robinson, Porter Hall e Jean Heather.

6) Los Angeles - Cidade Proibida (1997)

Apesar de ser mais recente, tem a temática noir, com direito a femme fatale e tudo. A história se passa no início dos anos 50, em Los Angeles, e três detetives se deparam com uma trama de conspiração e corrupção policial, ligados a um esquema de prostitutas de luxo, no qual cada uma delas personifica uma estrela de cinema.

7) Sin City - A Cidade do Pecado (2005)

Em Sin City, vivem policiais trapaceiros, mulheres sedutoras e vigilantes desesperados. Os personagens são complexos e cada um busca um destino distinto, como Marv (Mickey Rourke). Ele é um lutador de rua durão decide levar para casa Goldie (Jaime King). O problema é que ela aparece morta em sua cama. Assim, ele sai em busca de uma jornada pessoal pela cidade, buscando vingança. Enquanto isso Dwight (Clive Owen) se apresenta para proteger suas amigas, as damas da noite, após o assassinato de um policial. Em outro canto da cidade, John Hartigan (Bruce Willis), o último policial honesto da cidade, está se aposentando, mas se envolve na tentativa de salvar uma jovem de 11 anos das mãos do filho de um senador.

Fonte: Terra
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