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Para Rosamaria Murtinho, televisão atual está muito repetitiva

9 jun 2013 - 08h12
(atualizado às 08h12)
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Atriz de 77 anos, há mais de 50 na dramaturgia
Atriz de 77 anos, há mais de 50 na dramaturgia
Foto: Pedro Paulo Figueiredo/Carta Z Notícias / TV Press

Prestes a completar 50 anos de carreira na televisão, Rosamaria Murtinho faz parte da história da teledramaturgia brasileira. E, apesar de ter uma vida dedicada às artes cênicas, seu primeiro contato com o universo da interpretação aconteceu quase por acaso.

Sem nunca ter demonstrado interesse na área antes, aos 18 anos ela foi convidada para substituir uma atriz doente em uma peça de teatro amador. O talento falou mais alto e outras oportunidades apareceram, tanto nos palcos quanto na TV. E a intérprete da interesseira Tamara de Amor à Vida chegou a ser uma das primeiras atrizes contratadas pela extinta TV Excelsior, em 1964.

"A primeira novela da minha vida, A Moça que Veio de Longe, marcou a minha carreira. Como naquela época não tinha a tecnologia que temos hoje, era mais difícil gravar as cenas. Então eu aprendi muito”, relembra.

Atualmente na trama das 21h da Globo, assinada por Walcyr Carrasco, a atriz dá vida à sogra de Félix, o grande vilão da novela, interpretado por Mateus Solano. Vaidosa, porém falida, ela recorre ao sustento do genro na hora de bancar suas extravagâncias, desde joias e vestimentas até as cirurgias plásticas que se submete com frequência. E é pelo dinheiro da família Khoury que Tamara aconselha a filha Edith (Bárbara Paz) a manter seu casamento – mesmo após descobrir que o marido tem tendências homossexuais.

Rosamaria afirma ter tirado a inspiração para sua personagem de suas lembranças de quando ainda era criança. "Eu me inspirei em algumas amigas da minha mãe. Como na época não existia cirurgia plástica, elas tentavam ao máximo não mover os músculos faciais para não deixar as rugas aparecerem. Era engraçado. Então, resolvi trazer isso para a Tamara", conta, aos risos.

Esta é a sua terceira novela escrita por Walcyr Carrasco, com quem você já trabalhou em Sete Pecados, em 2007, e Chocolate com Pimenta, e, 2003. Como avalia a estreia do autor no horário das 21h?

O Walcyr é muito coerente com o que escreve. Às vezes, a gente vê uma novela e não acredita no que está sendo contado pelo autor, mas isso nunca acontece com ele. Quando me perguntam sobre ele, sempre me lembro de uma frase do escritor inglês Aldous Huxley, que diz: "a ficção tem de ser coerente, a realidade não". E é isso que eu enxergo nos textos do Walcyr, ainda mais agora que ele está escrevendo uma trama mais forte por causa do horário das 21h.

Ao longo desses quase 50 anos à frente das câmeras você já interpretou todos os tipos de papéis. Começou como filha, já fez mães e hoje dá vida a avós. Isso mexeu com a sua vaidade de alguma forma?

Eu estreei na televisão como estrela, sempre protagonista. Mas, quando você fica mais velha, esse tipo de papel vai diminuindo. Quando me deram pela primeira vez uma personagem que não tinha tanto destaque na trama, eu não cheguei a me ressentir, mas estranhei. E não mexeu exatamente com a minha vaidade, porque os papéis foram acompanhando a minha idade real. Hoje eu vejo que tem de haver essa renovação mesmo de protagonistas na televisão. Mas eu até gostaria que fizessem produções com artistas mais experiêntes nos postos de protagonistas.

Alguns atores acham que, com o tempo, seus personagens acabam se repetindo na televisão. Você já sentiu isso?

Sim. Eu vejo que sou muito chamada para interpretar personagens com perfil de mulher rica. São papéis muito bons, mas repetitivos. Isso me deixa com vontade de fazer teste para outros papéis, porque, às vezes, o diretor não teve a chance de ver você no teatro, de ver suas outras possibilidades e acaba sempre convidando você para a mesma coisa. E eu comecei na televisão dando vida a uma emprega doméstica, em A Moça que Veio de Longe, e hoje só interpreto patroas (risos). Mas a televisão, em si, também está repetitiva.

Como assim?

A televisão está repetitiva, mas não é culpa dos autores e diretores. É porque o público gosta das mesmas piadas. As pessoas têm muita rejeição pelo novo. Então, mesmo com algumas novidades nas novelas e programas, em geral, as tramas se repetem. Isso acontece porque, apesar de as produções televisivas serem altamente artísticas, a TV tem como base uma avaliação comercial pela audiência, então tem de agradar o telespectador.

Você trabalha com televisão desde 1964 e já foi contratada de vários canais, além de ter presenciado muitas fases da teledramaturgia. Como vê a evolução das novelas brasileiras?

A evolução das novelas brasileiras é fantástica. E eu acho que a grande sorte que nós tivemos foi que, quando as emissoras começaram a investir em teledramaturgia, elas tiveram de produzir seus próprios folhetins, porque para comprar produções estrangeiras era muito caro na época. Então houve uma necessidade de buscar autores brasileiros de qualidade no teatro, como a Ivani Ribeiro e o Dias Gomes. Isso desenvolveu uma dramaturgia nacional, com os nossos valores e as nossas problemáticas, que deu certo.

Fonte: TV Press
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