Remakes de novelas de sucesso se tornam desafio para novos atores
- Mariana Trigo
Volta e meia a televisão costuma produzir remakes de tramas que fizeram história - e audiência - na teledramaturgia. Mas, para os atores escalados, muitas vezes é embaraçoso recriar papéis já interpretados por outros anteriormente. Pior ainda quando antigos personagens ainda estão na memória do público. Até pouco tempo atrás, por exemplo, era difícil pensar na minissérie Gabriela sem relembrar a antológica cena de Sônia Braga, com seus longos cachos negros, buscando uma pipa de joelhos em cima de um telhado.
Tamanha sensualidade parecia ser difícil de ser reproduzida. Esse chegou a ser o temor de Juliana Paes, escalada pelo diretor Roberto Talma para reviver a personagem na minissérie que estreia no próximo dia 19 de junho, na TV Globo. "Falei com a Sônia e ela me desejou sorte. O desempenho dela nesse trabalho está vivo na lembrança de todo brasileiro. Vão fazer muitas comparações, mas tentei buscar um outro caminho para a personagem", explica Juliana.
Para Humberto Martins, que também está em Gabriela, foi difícil compor o Nacib sem lembrar das cenas mais quentes de Armando Bógus com Braga. "Vou fazer um Nacib meu, mas inspirado no Nacib do Bógus. Este trabalho vai ser uma homenagem a ele", explica o ator.
Enquanto alguns artistas lembram de seus personagens com outras atuações, muitos preferem nem assistir as tramas originais para não se influenciaram. Débora Falabella, por exemplo, que vive a vingativa mocinha Nina em Avenida Brasil, interpretou a personagem-título do remake de Sinhá Moça, em 2006 - 20 anos depois da trama ser exibida pela Globo, com Lucélia Santos como protagonista. No entanto, ela preferiu não cair na tentação de assistir aos capítulos da primeira versão. "Não quis buscar essa referência porque era a mesma mídia, não era cinema ou teatro. Fiquei com medo de me influenciar pela Sinhá idealista da Lucélia. Preferi compor do meu jeito", afirma.
Outros atores, no entanto, vibram ao interpretar papéis antes vividos por atores que admiram. Malu Mader, que estreou na televisão como a protagonista jovem de Ti-Ti-Ti, em 1985, voltou a atuar no remake da trama, exibido em 2010. E, na segunda versão, deu vida à editora de moda Suzana, papel originalmente interpretado por Marieta Severo. "Me lembro de ficar fascinada com a Marieta na época", diz.
O mesmo aconteceu com Dira Paes, também na versão do ano retrasado. Quando soube que interpretaria Marta, personagem de Aracy Balabanian na primeira versão da história de Cassiano Gabus Mendes, Dira buscou referências na intérprete. "A Aracy foi minha inspiração. Lembro dela vivendo a mesma personagem, mas de uma forma mais contida, com um corte de cabelo Chanel bem comportado", compara.
Giselle Itiê, que viveu a protagonista da adaptação da trama colombiana Yo Soy Betty, La Fea, exibida na Record com o nome de Bela, A Feia, decidiu assistir a todas as versões da história, inclusive a americana, batizada de Ugly Betty. "Fiz questão de ver tudo para seguir o caminho contrário. Não queria ter os trejeitos delas, nem da Ana María Orozco, que fez a original. Olhava para ver o que eu não queria fazer", garante.
Grande parte do temor dos atores em interpretar personagens que foram bem-sucedidos com outros artistas é ficar aquém da versão original. Por isso é curioso perceber a reação dos intérpretes que viveram esses personagens pela primeira vez ao assistirem as novas atuações. Francisco Cuoco, que protagonizou O Astro, de Janete Clair, em 1977, assegura ter conversado muito com Rodrigo Lombardi quando ele foi escalado para viver o paranormal na versão exibida ano passado, na TV Globo. "O Herculano foi para ótimas mãos! Fizemos de formas diferentes, mas não dava para calcular onde começava um e onda terminava o outro", elogia.
Quarteto revisitado
Uma das atrizes recordistas em interpretar personagens já vividos anteriormente em outras versões é Vanessa Giácomo. Ela, que estreou na televisão em Cabocla, em 2004, iniciou a carreira com a missão de viver a protagonista Zuca, uma personagem antes interpretada por Glória Pires. E conseguiu. A trama chegou a obter a excelente média de 35 pontos de audiência. Na sequência, em Sinhá Moça, Vanessa viveu Juliana, que na primeira versão havia sido interpretada por Luciana Braga. "Não assisti nem a Glória e nem a Luciana para não me influenciar", recorda.
Mas a trajetória de remakes de Vanessa estava só começando. Em 2009, ela voltou a atuar em uma refilmagem, de Benedito Ruy Barbosa. Desta vez, viveu a Rosinha de Paraíso, que já havia sido interpretada por Zaira Zambelli, em 1982. Agora, a atriz está se preparando para voltar ao ar em duas semanas em mais um trabalho do tipo: Gabriela.
Na trama, adaptada do romance de Jorge Amado por Walcyr Carrasco, a atriz será Malvina, personagem vivida por Elizabeth Savalla na versão exibida em 1975. "Sou quase uma 'expert' em 'remakes'. Mas agora tem um fator inédito: sou amiga da Elizabeth e troquei algumas ideias com ela sobre a Malvina, que foi importante na carreira dela", ressalta Vanessa.
Curiosidades
- Assim que a Globo decidiu fazer um remake de Cabocla, a emissora cogitou o nome de Cleo Pires para a personagem-título. No entanto, a atriz não aceitou estrear na televisão com o mesmo papel vivido por sua mãe, Glória Pires, na primeira versão da história. Foi justamente na novela que Glória conheceu o pai de Cléo, o cantor Fábio Jr.
- Thiago Fragoso interpretou Márcio em O Astro, papel interpretado por Tony Ramos na primeira versão da história. "Fiz o primeiro nu na televisão com esse personagem", lembra Ramos.
- Em Pecado Capital, de Janete Clair, Francisco Cuoco interpretou o mesmo papel que foi de Lima Duarte, Salviano.
- Grande parte do elenco de Rebelde, da Record, assegura que não se influenciou assistindo a trama original mexicana antes de compor os personagens.
