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Rios de metáforas jorram de pescoços na série 'True Blood'

1 set 2009 - 07h09
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No calor de agosto, parece ser um trabalho inútil - e destinado a conclusões falsas - tentar decifrar como os que bebem sangue se tornaram o alimento e a bebida da cultura popular no final da primeira década do século 21.

Mas aqui estamos, no final do verão americano de 2009, com a febre por Crepúsculo continuando, o filme de vampiros Thirst concorrendo ao prêmio do júri de Cannes deste ano, a série sobrenatural Being Human passando na BBC America, e outras chegando aos canais CW e AMC.

Acredita-se que a série da HBO True Blood seja responsável por reavivar a boa sorte do canal. Os livros sobre Sookie Stackhouse, de Charlaine Harris, que inspiraram a série, ocupam atualmente sete dos vinte primeiros lugares da lista de best-sellers de ficção de bolso do jornal The New York Times. O programa, uma mistura das aspirações de Flannery O'Connor e a sede de sangue pop de Anne Rice, ameaça tornar-se a série mais assistida da história da HBO depois de Os Sopranos, ultrapassando Sex and the City. Mas enquanto Os Sopranos era moderado e muito ambicioso, True Blood tem excesso e descaramento. Durante sua atual temporada, a segunda (cujo penúltimo episódio será transmitido domingo nos Estados Unidos), o programa se tornou uma alegoria para quase todas as tensões da vida americana, apesar de um início que sugeria temas mais restritos.

Quando True Blood surgiu, era fácil supor que se tratava de uma metáfora do capitalismo tardio descontrolado, não apenas porque começou com um insolente balconista de loja lendo o livro Shock Doctrine, de Naomi Klein, mas também porque o programa parecia se basear na crença de um viciado em compras de que somos aquilo que compramos.

Situada na cidade ficcional de Bon Temps, na Louisiana, a série imagina vampiros vivendo entre nós, sendo assimilados desconfortavelmente, mas sobrevivendo com uma nova forma de alimento: sangue sintético, vendido em bares e lojas de conveniência, negando a necessidade (se não o desejo) de fazer boas refeições a partir de corpos humanos. O vampiro sexy da cidade é Bill Compton, interpretado por Stephen Moyer, com a mesma pele cor de batata do personagem Edward Cullen, na adaptação cinematográfica de Crepúsculo.

True Blood não se importa de onde os acessórios vieram. Não está interessado no que compramos; o programa se importa com se realmente somos as pessoas com quem dormimos. O sexo é apresentado em porções tão horrivelmente voluptuosas, para garantir a saciedade do telespectador, que o programa não tem paralelos na televisão - pelo menos na televisão que não está disponível exclusivamente em pay-per-views de hotéis por US$ 15,99. True Blood também não se parece com nada visto nos cinemas há anos, um vestígio dos anos 80 forjados pelas reflexões de Adrian Lyne e a câmera de David Lynch, num tempo em que os estúdios, livres da necessidade de vender DVDs no Wal-Mart, aceitavam maior permissividade sexual nos filmes.

A atual temporada estabeleceu um confronto entre um culto cristão psicopata chamado Sociedade do Sol, que mantém um tipo de acampamento de conversão (o Instituto Luz do Dia), e os vampiros (e seus simpatizantes) que o culto busca destruir. Ao mesmo tempo, coisas ruins continuam acontecendo com mulheres libidinosas - que são quem faz acontecer coisas ruins.

Ninguém na sociedade é tão aterrorizante quanto Maryann (Michelle Forbes), uma maluca não totalmente humana, que cozinha empadões de carne feitos de órgãos adquiridos de forma duvidosa, e que representa a maior ameaça à moral de Bon Temps por sua tendência a hipnotizar a cidade em estados de êxtase violento e orgiático. Quando ela está por perto, olhos derramam sangue preto. Ela quer que todos façam sexo o tempo todo. Ela também gosta de sacrifício humano. Liberdade sexual sem controles aparentemente não é algo que tampouco devamos desejar.True Blood avança sob o feitiço de seu próprio id não regulado. Os milhões de ávidos telespectadores não parecem se incomodar com o fato de que Ball esteja delicadamente comandando seu navio ideológico. Sex and the City - isso foi somente um jogo de freiras.

True Blood é exibido pela HBO
True Blood é exibido pela HBO
Foto: Reuters
The New York Times
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