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"Se fosse homossexual, seria como o Téo", diz Paulo Betti

O experiente ator ganha um brilho a mais e empolgação quase juvenil quando fala de Téo, seu exagerado e controverso personagem em 'Império'

27 ago 2014 - 07h27
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O jeito sereno de Paulo Betti é uma evidência de quem já se acostumou a dar entrevistas. No entanto, o experiente ator ganha um brilho a mais e empolgação quase juvenil quando fala de Téo, seu exagerado e controverso personagem em Império. Na novela de Aguinaldo Silva, ele dá vida a um blogueiro gay bastante afetado. Pintado com tintas fortes pelo ator, que carregou em trejeitos e estereótipos para compor o papel, Téo já foi alvo de muitas críticas, mesmo com o folhetim no ar há menos de dois meses. "Todo brasileiro é técnico de futebol e sabe exatamente como fazer um gay", brinca. Por isso, ele admite que há um certo exagero, mas que foi exatamente o que buscou quando surgiu o convite para interpretar o papel. "Todos nós temos todos os tipos de personagens dentro da gente. O gay é um personagem muito grande na vida de um homem. Busquei o meu gay e saiu assim. Se eu fosse homossexual, provavelmente seria como o Téo", garante, aos risos.

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Nascido na pequena Rafard e criado em Sorocaba, ambas no interior de São Paulo, Paulo Betti é o mais jovem de uma família de 15 irmãos. Após uma infância em um meio humilde e operário, o fascínio pelas artes levou o atoPaulo Betti que agora está prestes a completar 62 anos – a deixar a cidade pequena para andar livremente nos palcos de todo o país. Com uma carreira marcante tanto na tevê quanto no teatro e cinema, Paulo garante que passou a metade de sua trajetória escolhendo papéis e, na outra metade, sendo escolhido por eles. "Na tevê, quase todos me foram dados. No teatro, posso escolher mais", garante ele, que não abre mão de priorizar todos os meios em sua carreira. "Não existe exigência da Globo ou minha. É uma questão de bom senso. Com bom senso, dá para conciliar tudo que me é importante", categoriza. 

Seu personagem em Império é um blogueiro inescrupuloso. De onde vieram as referências para compor esse papel?

Paulo Betti - 

Busquei me preparar de todas as formas que você pode imaginar. Fui em redações de sites e jornais especializados em celebridades. Queria saber qual era o clima e quais as coisas que são importantes. Eles reparam desde a roupa, passando pelo peso e até se a pessoa está ou não usando aliança (risos)! Li "Tratado Geral Sobre a Fofoca", de José Ângelo Gaiarsa, e "Lábios que Beijei", uma autobiografia do Aguinaldo Silva falando sobre o universo gay do bairro carioca da Lapa nos anos 1970, que usei como o passado do Téo. Usei grandes ícones como referência, como o Sérgio Mamberti no filme "O Bandido da Cruz Vermelha", Oscarito, Hugo Carvana, Raul Cortez... Pensei como cada um desses caras faria o Téo. Tem o figurino que também ajuda muito. E as preparações externas. Estou fazendo "botox" capilar e um tratamento para a pele! Tudo em função dele, claro (risos).

Com tantas referências externas, sobrou espaço para trazer alguma experiência interna para a composição?

Paulo Betti -

Com certeza! Tudo isso que eu falei ficou girando na minha cabeça durante uns dois meses. Mas o personagem veio mesmo na hora de gravar a primeira cena. Ali que vi que já tinha esse personagem dentro de mim. Aliás, nós temos todos os tipos de personagens dentro da gente. E o gay é um personagem muito grande na vida de um homem. Provavelmente, se eu fosse homossexual, seria esse gay "pintoso". 

O jeito estereotipado do Téo encontrou muitas críticas. Como você enxerga isso?

Paulo Betti - Claro que existem resistências quanto ao meu olhar sobre o personagem. Isso sempre vai ter e é muito saudável. Faz parte da polêmica, ele é um personagem controverso. O problema é que tem muito entendido no assunto. Todo brasileiro é técnico de futebol e sabe exatamente como fazer um gay. Acho que, com o tempo, as pessoas vão se acostumar. De qualquer forma, eu precisava encontrar um meio de diferenciá-lo.

O ator Paulo Betti
O ator Paulo Betti
Foto: Isabel Almeida/Carta Z Notícias / TV Press

Como assim?

Paulo Betti - 

Na novela, já existe a Xana Summer, personagem do Aílton Graça, que tem um caráter mais travestido. O José Mayer, que faz o Cláudio, é um enrustido. Já no texto do Téo, vinham umas dicas que ele poderia ser mais "desmunhecado". Foi uma opção minha carregar tanto nas tintas. Além disso, é uma ficção, não precisa ser tão realista.

Folhetins recentes tiveram personagens gays muito marcantes, como o Félix de Amor à Vida e o Crô de Fina Estampa. Você temeu as comparações?

Paulo Betti - 

Não. Cada um tem seu gay dentro de si. O meu é meu, ninguém tasca (risos)! O do Mateus Solano e o do Marcelo Serrado são deles, completamente diferentes entre si e do meu. As idades são muito diferentes, a função na trama e as referências usadas, também. Os mocinhos não se parecem entre si e nem os vilões. Não precisa ser assim com os gays.

Como surgiu o convite para participar de Império?

Paulo Betti -

Ainda estava em

Malhação

 quando fui convidado. A princípio, ia fazer outro personagem. O Téo seria do José Wilker. E quando, infelizmente, ele faleceu, passaram o papel para mim. Senti um pouco de culpa, no início. Nós éramos sócios, próximos, muito amigos. Mas lembrei que, uma vez, ia dirigir uma peça no Rio de Janeiro e dei para ele a direção e achei que ficamos em casa. Diminuiu um pouco a sensação de culpa.

Você integrou o elenco de "Malhação" pela terceira vez na última temporada. Como foi essa experiência?

Paulo Betti -

Foi muito divertida, principalmente na parte final, quando o meu personagem, o Caetano, criou um irmão, o Veloso. Esse era surfista, usava uma peruca, tinha um jeito muito particular de falar e andar. Achei o máximo. Fazer um produto como "Malhação" pode parecer árduo, mas não é. 

Como assim?

Paulo Betti - O esquema para veteranos é muito tranquilo, gravava apenas dois dias por semana. Fora que é muito revigorante trabalhar com tantos jovens e estar em uma novela infantojuvenil rejuvenesce meu público. 

Você estava sem atuar em uma novela das nove desde "Paraíso Tropical", de 2007. Fez falta estar longe do chamado horário nobre? 

Paulo Betti - 

Com certeza. Eu tinha me esquecido como é uma novela das nove. Você sente uma eletricidade diferente. O ritmo, a intensidade e, principalmente, a resposta é muito maior, mais rápida, mais alucinante. Óbvio que as pessoas me viram em "Malhação", em "Lado a Lado", mas não estavam empolgadas para dizer que estavam assistindo. Ser do horário nobre causa uma comoção nas pessoas que elas vêm até mim o tempo todo. A novela das nove tem um impacto muito grande. Exatamente por isso eu não ia querer fazer um personagem que passasse batido.

Depois de emendar quatro trabalhos – A Vida da Gente, Lado a Lado, Malhação e "Império" –, existe uma preocupação de "cansar a imagem"?

Paulo Betti - 

Não é exatamente isso. Mas quero e preciso priorizar outros projetos. Acho que depois dessa novela, vou estar com moral para descansar um tempo. É tudo uma questão de bom senso. 

E quais são seus próximos projetos?

Paulo Betti - Estou organizando o Sarau da Casa da Gávea, de onde sou diretor, que é a coisa que mais me emociona artisticamente. Toda última terça-feira de cada mês, nos reunimos lá para o chamado "Mostre Seu Talento em Cinco Minutos". E os saraus reúnem pessoas do país todo mostrando o que fazem melhor. É muito legal. Além disso, em 2015, começo a rodar o longa "A Fera na Selva", baseado em uma peça que fiz com Eliane Giardini há mais de 30 anos. E também estou preparando um monólogo chamado "Autobiografia Autorizada", onde vou falar sobre a minha vida. Pretendo rodar o país com esse espetáculo.

Olhar crítico

Com 35 anos de carreira na TV - sua estreia foi em Como Salvar Meu Casamento, exibida em 1979 pela extinta Tupi –, Paulo Betti -garante que suas escolhas profissionais sempre foram intuitivas e emocionais. "Talvez, metade do tempo eu tenha escolhido papéis e, na outra metade, tenha feito papéis que me escolheram", afirma ele, que vê com paixão o ofício de ator. "Empresto corpo, sangue e alma para contar essas histórias que imitam a vida e reproduzem o estereótipo de cada um dos telespectadores", diz.

Apesar de interpretar diferentes tipos, ele analisa com serenidade os personagens que desempenhou ao longo de sua carreira. "A TV sempre coloca o ator dentro de uma chave de atuação", diz, com convicção, completando que a proximidade com a vida, ideologia e postura acaba combinando com os papéis encontrados. "Eu caí em um estereótipo engraçado. Ou faço um corno ou um corrupto. Às vezes, os dois. E, na maioria das vezes, tem uma mulher mais jovem envolvida. Mas não ligo muito para essas coincidências", garante, bem-humorado. 

Novos voos

A expansão do mercado de teledramaturgia nos canais a cabo é a próxima área que Paulo Betti -quer alcançar. Depois da lei que obriga que uma porcentagem do que é transmitido nos canais de TV fechada seja de conteúdo nacional, houve uma explosão de novas produções, o que anima muito o ator. "É uma alegria muito grande ver o ramo florescendo e dando mais espaço para os talentos que temos por aí", comemora. No entanto, não é só atuando que Paulo quer figurar nesse ramo. "Dirigir alguma coisa para canal fechado é uma ideia que tem me interessado muito", afirma, ansioso.

Trajetória Televisiva

- "Como Salvar Meu Casamento" (Tupi, 1979) - Pedro.

- "Os Imigrantes" (Band, 1981) - André.

- "Maçã do Amor" (Band, 1983) - Edson.

- "Transas e Caretas" (Globo, 1984) - Dirceu.

- "Vereda Tropical" (Globo, 1984) - Marco.

- "De Quina pra Lua" (Globo, 1985) - Bruno.

- "Hipertensão" (Globo, 1985) - Laerte.

- "Carmen" (Globo, 1987) - Ciro.

- "Tieta" (Globo, 1989) - Timóteo.

- "Pedra sob Pedra" (Globo, 1992) - Carlão.

- "Mulheres de Areia" (Globo, 1993) - Wanderley.

- "Incidente em Antares" (Globo, 1994) - Cícero.

- "A Próxima Vítima" (Globo, 1995) - Olavo.

- "Engraçadinha - Seus Amores e Seus Pecados" (Globo, 1995) - Odorico.

- "O Fim do Mundo" (Globo, 1996) - Joãozinho.

- "A Indomada" (Globo, 1997) - Ipiranga.

- "Força de um Desejo" (Globo, 1999) -  Higino.

- "Chiquinha Gonzaga" (Globo, 1999) - Carlos.

- "O Clone" (Globo, 2001) - Armando.

- "Os Maias" (Globo, 2001) - Joaquim.

- "Desejos de Mulher" (Globo, 2002) - Alex.

- "Kubanacan" (Globo, 2003) - Chacon.

- "Metamorphoses" (Record, 2004) - Ventura.

- "JK" (Globo, 2006) - José Maria.

- "Paraíso Tropical" (Globo, 2007) - Lucena.

- "Sete Pecados" (Globo, 2007) - Flávio.

- "Som & Fúria" (Globo, 2009) - Alan/Oberon.

- "Tempos Modernos" (Globo, 2010) - JP.

- "A Vida da Gente" (Globo, 2011) - Jonas.

- "Lara com Z" (Globo, 2011) - Getúlio.

- "Lado a Lado" (Globo, 2012) - Mário.

- "Malhação" (Globo, 2013) - Caetano.

- "Império" (Globo, 2014) - Téo.

Resumo de novelas Resumo de novelas

Fonte: TV Press
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