PUBLICIDADE
URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul

TV faz da metalinguagem uma aliada para retratar a realidade

18 mai 2011 - 11h43
(atualizado às 11h44)
Compartilhar
Geraldo Bessa

A metalinguagem - ou a propriedade que uma linguagem tem de falar de si mesma e de outras linguagens - é um recurso muito utilizado na teledramaturgia. Seja para criticar ou homenagear a própria produção artística, diversos autores apostam no uso desta técnica para criar um jogo entre o produto e o modo como ele é feito. A televisão brasileira tem inúmeros exemplos. A atual Lara com Z, série global que revela as dificuldades das produções cênicas, até a pioneira Espelho Mágico, novela sobre os bastidores da televisão e do teatro, exibida em 1976, também pela Globo. Escrita por Lauro César Muniz, a trama queria mostrar a realidade do mundo dos espetáculos, e desenvolvia-se em meio a desorganizada produção de Coquetel de Amor, uma novela dentro da novela, e a montagem da peça Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand. "A novela não tinha esse nome por acaso, ela retratava uma realidade invertida. As falas do Jordão eram baseadas nas minhas experiências no meio televisivo", admitiu Muniz, referindo-se a Jordão Amaral, autor da fictícia Coquetel de Amor, personagem de Juca de Oliveira.

Os bastidores da montagem de um texto clássico também movimentam a história da série Lara Com Z, escrita por Aguinaldo Silva e Maria Elisa Berredo. Na trama derivada da minissérie Cinquentinha, Lara Romero, de Susana Vieira, capta recursos para fazer um filme, mas acaba desviando o dinheiro. Tudo para realizar o sonho de reformar um teatro e ser a grande estrela de uma nova montagem de Macbeth, de William Shakespeare. "Acho muito importante trazer a emoção e os problemas do teatro para a televisão", ressaltou Susana. Exibida nas noites de quinta, Lara com Z é recheada de referências à realidade, com direito a Susana interpretando uma diva das Artes Cênicas, egocêntrica e inconsequente. Para realçar ainda mais a brincadeira entre o real e a ficção, Wolf Maia, diretor da série, interpreta um excêntrico diretor amigo de Lara, enquanto Guilherme Weber encarna Antônio Marcondes, ator alcoólatra e decadente. "O personagem é um signo lendário da nossa profissão. Representa os atores que foram se afastando e caindo no esquecimento", avaliou Guilherme.

De forma descontraída, outra produção recente da Globo que utilizou a metalinguagem em larga escala foi Ti-ti-ti. Sucesso da faixa das sete, a comédia vivia fazendo referências aos personagens de outras novelas da emissora. Um bom exemplo disso eram os diálogos entre Jaqueline, de Cláudia Raia, e Suzana, personagem de Malu Mader. Sempre que se referia a Suzana, Jaqueline a chamava de "fera radical", fazendo alusão à novela homônima, protagonizada por Malu em 1988. "Tive total liberdade para brincar com o texto e fazer essas homenagens a personagens inesquecíveis", confessou Maria Adelaide Amaral, autora do "remake".

Lidando com a realidade de um jeito mais sério e algumas informações históricas, a novela Amor e Revolução, do SBT, retrata o cotidiano de uma companhia de teatro durante os anos de ditadura no Brasil. Segundo o autor Tiago Santiago, a ideia deste núcleo dentro do folhetim é homenagear os atores que não deixaram de produzir, mesmo vulneráveis aos cortes da censura. "Eles montam várias textos que falam sobre liberdade. Inclusive, o Liberdade, liberdade, do Millôr Fernandes", contou Tiago. Assim como as famosas companhias da época, a "Vanguarda" - nome do grupo de teatro inserido na novela - também tem sua musa, Stela Lira, de Joana Limaverde. "Este trabalho mexe com coisas que realmente aconteceram. Me inspirei em grandes atrizes que viveram aquele momento. Mulheres à frente do seu tempo", revelou a atriz, que buscou a história de nomes como Ítala Nandi e Leila Diniz.

Nome próprio

Série criada a partir de uma peça teatral, Clandestinos - O Sonho Começou, levou ao extremo o uso da metalinguagem. Exibida no ano passado pela Globo, as histórias retratadas na televisão e no teatro foram baseadas nas experiências reais do autor João Falcão e do grupo de 17 atores selecionados para o espetáculo. Para dar mais veracidade aos casos, os atores utilizavam seus próprios nomes. O chamado foi feito pela internet e para surpresa de João, três mil pessoas se inscreveram. "O teste foi um pretexto para saber as histórias dessas pessoas que lutam para ter uma oportunidade na carreira. Já estive nessa situação e sei das dificuldades", valorizou João.

Um dos casos mais interessantes foi o da atriz Nanda Costa. Na história feita exclusivamente para a televisão, ela interpretava uma atriz chamada Nanda, que acabou de sair da novela das nove da Globo, e se inscreveu no teste em busca de novas oportunidades. Naquele momento a atriz tinha acabado de interpretar a sonsa Soraya, de Viver a Vida, folhetim das nove escrito por Manoel Carlos. "Nem precisei estudar o personagem. Foi uma experiência confusa e divertida", relembrou Nanda, aos risos.

Instantâneas

# Assim como na realidade, em Espelho Mágico, Tarcísio Meira e Glória Menezes interpretaram Diogo Maia e Leila Lombardi, um casal de atores juntos há muito tempo e querido pelo público.

# Com um álbum lançado e muitos musicais no currículo, Daniel Boaventura deu vida a um cantor na novela Passione. Com a repercussão do folhetim, o ator acabou gravando um CD com músicas italianas e está em turnê nacional.

# Outra série que usou o nome dos atores nos personagens foi Junto e Misturado. "O programa tinha uma pegada de comédia stand-up e usar os nossos nomes dava um clima ainda mais pessoal às esquetes", acreditou Fábio Porchat, ator e redator do humorístico, que tem previsão de voltar à grade da Globo no segundo semestre.

# Frequentemente, Wolf Maya participa como ator nas produções em que dirige. Antes de Lara Com Z, ele apareceu em Na Forma da Lei, Duas Caras, Senhora do Destino, entre outras.

Diversos autores apostam na metalinguagem para criar um jogo entre o produto e o modo como ele é feito
Diversos autores apostam na metalinguagem para criar um jogo entre o produto e o modo como ele é feito
Foto: TV Press
Fonte: TV Press
Compartilhar
TAGS
Publicidade