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Santos recebe Nobel da Paz com dedicatória a Colômbia e vítimas da guerra

10 dez 2016 - 12h38
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O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, recebeu neste sábado na prefeitura de Oslo, a capital da Noruega, o prêmio Nobel da Paz, que dedicou a seu país e às vítimas do conflito armado, que foram ovacionadas durante a cerimônia, porque, segundo o chefe de Estado, a paz é do povo e deve ser construída "entre todos".

"A guerra que causou tanto sofrimento e angústia a nossa população, ao longo e largo de nosso belo país, terminou", disse Santos, que louvou o fim de "um pesadelo" de mais de meio século que só gerou "dor, miséria e atraso".

Em seu discurso, foram lembrados, sobretudo, os "mais de 8 milhões de vítimas e deslocados" e "mais de 220 mil mulheres, homens e crianças que foram assassinados" para a vergonha dos colombianos, segundo Santos.

O presidente do país sul-americano, premiado por seus "esforços decididos" para acabar com a guerra, afirmou que a Colômbia tornou "possível o impossível" e que o Nobel foi um "presente vindo do céu", como "o vento de popa" que impulsionou a Colômbia ao seu destino, "o porto da paz!".

O anúncio do Nobel veio pouco depois do triunfo do "não" no referendo sobre o primeiro acordo com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), um resultado inesperado que situou os colombianos em um lugar mágico, mas contraditório, como a fictícia Macondo do Nobel de Literatura Gabriel García Márquez.

Esse revés foi usado como uma oportunidade para iniciar um diálogo nacional e conseguir um melhor acordo que toda a Colômbia pudesse apoiar e que foi aprovado no final do mês passado pelas duas câmaras do parlamento do país.

Santos elogiou os países que apoiaram as negociações, sobretudo a Noruega, que mediou o processo ao lado de Cuba, mas também as forças armadas e os que negociaram diretamente.

"Refiro-me tanto aos negociadores do governo como aos das Farc - meus adversários -, que demonstraram uma grande vontade de paz. Eu quero exaltar essa vontade de abraçar, de alcançar a paz, porque, sem ela, o processo teria fracassado", comentou o presidente.

Nenhum integrante da guerrilha esteve presente em Oslo para evitar complicações por sua situação jurídica na Colômbia, conforme tinha explicado o presidente colombiano em entrevista coletiva ontem.

No entanto, as vítimas do conflito estavam presentes, como Leyner Palacios, sobrevivente do massacre de Bojayá, onde uma bomba lançada pelas Farc contra uma igreja em um confronto com paramilitares causou a morte de entre 74 e 119 pessoas em maio de 2002, entre eles 32 familiares seus.

As Farc pediram perdão e Palacios aceitou, disse Santos, ressaltando o "paradoxo" que existe no país, já que as vítimas são as mais dispostas à reconciliação, enquanto "muitos que não sofreram o conflito na própria carne resistem ao acordo de paz".

Em um discurso infestado de citações, entre elas do cantor Bob Dylan, ganhador do Nobel de Literatura deste ano, Santos defendeu a "necessidade urgente" de uma mudança estratégia na luta contra as drogas em nível internacional, e fechou seu pronunciamento novamente como palavras de "Gabo" (García Márquez), a quem considerou um "aliado na busca pela paz".

A Colômbia, em cujo céu brilha "o sol da paz", deve desfrutar de sua segunda chance, como "as estirpes condenadas a 100 anos de solidão" na "nova e arrasadora utopia da vida", afirmou Santos, citando trechos da famosa obra do autor colombiano, "Cem Anos de Solidão".

A aposta pelo diálogo e pela reconciliação foi central no discurso feito antes da entrega do prêmio pela líder do Comitê do Nobel norueguês, Kaci Kullmann Five, que foi lido pela vice-presidente desta organização, Berit Reiss-Andersen, devido à ausência da primeira por motivos de saúde.

Reiss-Andersen afirmou que a concessão do Nobel a Santos, a quem elogiou por sua "coragem e resistência política", foi um prêmio ao seu trabalho, mas também uma forma de apoiar um processo que estava "sob risco iminente", e é um "homenagem" a todas as partes, inclusive as Farc.

EFE   
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