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Blocos afros animam Carnaval em Salvador

17 fev 2015 - 15h57
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Os blocos afros representam uma das muitas marcas culturais de Salvador, já que mantêm a ligação da cidade com suas raízes africanas. No carnaval deste ano, 58 blocos que trazem a cultura africana como tema desfilaram pelos circuitos baianos mostrando a beleza negra, a musicalidade, a religiosidade e o apelo social.

A Banda Didá, fundada em 1993, saiu nas ruas levando a campanha “Vá na moral ou vai se dar mal”. Formados apenas por mulheres, tanto a banda quanto o bloco levaram ao público mensagem contra a violência feminina.

A diretora do grupo e percussionista, Vivian Queiroz, conta que, somente em cima do trio, são 14 mulheres tocando músicas relacionadas a temas africanos. No meio da multidão, quase 60 delas, vestidas de amarelo e dourado, se somam à musicalidade afro com o batuque dos tambores. Vivian explica que as cores das vestimentas são uma homenagem à religiosidade africana. “É a energia de Oxum, a energia dourada, da fertilidade, da suavidade, do ouro e da riqueza.”

Maria de Fátima vive há sete anos em cima de uma cadeira de rodas. Ela explica que, depois de muito tempo, resolveu participar do carnaval baiano, mas fez questão de sair no bloco da Banda Didá por se sentir uma mulher capaz de se divertir, mesmo com dificuldades de locomoção. “A gente que é deficiente necessita de compartilhar desse momento lindo. Hoje me sinto uma mulher realizada por estar, depois de 12 anos, curtindo este que é meu primeiro carnaval em Salvador.”

Outro bloco que já é tradição na folia baiana é o Filhos de Gandhi. Neste caso, apenas homens desfilam, vestidos de branco e azul, também trazendo mensagem de paz e resgatando as culturas afro e hindu. Há 66 anos de carnaval soteropolitano, o bloco traz à folia deste ano o tema “Águas Sagradas”, para lembrar as ligações religiosas entre o Brasil, a Índia e os países africanos.

O guru do bloco, Valdemar de Souza, está há 32 anos no Filhos de Gandhi. Ele conta que o bloco surgiu como forma de pregar a paz, mas lamenta que ainda exista intolerância religiosa, principalmente em relação às religiões de matrizes africanas.

“A entidade tem a responsabilidade de difundir sobretudo a nossa religião de matriz africana. Por mais que ainda haja preconceito e intolerância religiosa, estamos ganhando espaço, começando a tomar corpo. Mas essas coisas ainda deixam a desejar”, lamenta.

O bancário Marcos Vinícius sai no bloco há nove anos e reforça a mensagem de paz quando explica o que é ser Filho de Gandhi. Ele revela o significado da grande quantidade de colares que os homens levam no pescoço durante os desfiles. Já é tradição do bloco exclusivamente masculino trocar os adereços por beijos durante a folia.

“Eu, que sou baiano, pra mim, ser filho de Gandhi representa paz, axé, alegria, felicidade, energias positivas. Os colares são uma homenagem aos orixás, mas as meninas adoram receber o colar e acabou virando uma brincadeira: troco o colar por um beijo”, conta.

Os blocos afros, em Salvador, desfilam nos principais circuitos da cidade, mas é na Avenida Carlos Gomes, no centro da capital baiana, que eles trazem o batuque, arrastando multidões que fazem questão de conhecer um pouco da cultura africana.

*Colaborou Paula Laboissière

Agência Brasil Agência Brasil
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