O sangue quente da Bahia: Daniela Mercury ferve os foliões
Baiana voltou a se apresentar no Barra Ondina neste domingo (15) e homenageou o candomblé e umbanda
Era um bebê quando ouvi Daniela Mercury pela primeira vez. Desde o Canto da Cidade, sempre passei a considerá-la uma voz representativa daquilo que a Bahia tem de melhor: o sangue quente que corre em suas veias.
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Neste Carnaval, eu, como muitos foliões, vimos Daniela puxar um trio pela primeira vez. Quando avistamos o bloco surgindo na esquina do Farol da Barra, sua voz única já invadia o som do trio à sua frente, empurrada e potencializada por outras milhares.
Canções como Pérola Negra e o refrão “zum, zum, zum, zum, zum baba”, que provoca um efeito visual incrível com uma performance única do público de seu bloco, pulando como pipoca, Daniela ressalta o que a Bahia tem de melhor: sua cultura regional. Em tempos de segregação racial e social provocada pelo Carnaval, Daniela Mercury traz consigo a imposição cultural que somente blocos históricos como Ilê Aiyê, Filhos de Gandhy e Olodum são capazes.
Quando ela parou à minha frente e, de cima do trio, acenou afetivamente, logo percebi a razão pela qual a cantora segue sendo uma atração única dentro do Carnaval baiano e brasileiro. Daniela é a cara da Bahia, é pura e totalmente baiana, de alma, etnia e espírito.
Os saudosistas provavelmente ficariam ainda mais emocionados do que eu fiquei ao vê-la reverenciando as religiões derivadas do candomblé e umbanda em frente ao mestre Vovô do Ilê, de representatividade sem igual. Ou seja, Daniela sabe a importância da defesa das minorias e das culturas tradicionais, historicamente rejeitadas pelas potências ocidentais, ainda mais em uma época onde a tradição do Carnaval de Salvador corre tanto risco.
Com toda a pompa de uma estrela, a loira seguiu balançando seus cachos expressivos pelo restante do circuito, tendo seu trio praticamente carregado pela multidão. Mais uma vez, Daniela mostrou estar no nível de artistas emblemáticos como Luiz Caldas, Armandinho, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Eu, os baianos e os brasileiros agradecemos.