Hebe comemora 80 anos e continua "uma gracinha"
André Vendrami
Quem olha para as suas pernas, que ela inclusive faz questão de exibir, não diz que Hebe Camargo completa 80 anos neste domingo. Com alma jovem, a apresentadora continua "uma gracinha", como gosta de dizer àqueles que se sentam em seu sofá branco nas noites de segunda-feira no SBT.
Hebe é mais uma que entra para o time dos artistas octogenários, ao lado de Bibi Ferreira, Laura Cardoso, Sérgio Britto e Tônia Carreiro. Referência para as novas apresentadoras da televisão brasileira, ela já tem quase 60 anos de carreira como apresentadora, além de tantos outros anos trabalhados no rádio e no cinema.
Nascida no dia 8 de março de 1929, em Taubaté - interior de São Paulo-, aos seis anos mudou-se com a família para o bairro da Liberdade, na capital paulista.
Com uma infância difícil, Hebe estudou apenas até a 4ª série do ensino fundamental e trabalhava na casa de um parente rico como doméstica. Aos 11 anos, para ajudar no sustento da família, participava de programas de calouros nas rádios.
Começou a carreira artística fazendo parte de um quarteto chamado Dó-Ré-Mi-Fá. Em 1943, formou com a irmã Stella a dupla caipira Rosalinda e Florisbela.
No ano seguinte, já com 15 anos, estreou como crooner e gravou seu primeiro disco, um 78 rotações com as músicas Oh! José e Quem Foi Que Disse. Nessa época, quando seus cabelos ainda tinham a cor original, era conhecida como a Moreninha do Samba.
A história da carreira televisiva de Hebe está ligada com o início da TV no Brasil - que teve a primeira emissora inaugurada em 1950. Hebe foi convidada por Assis Chateubriand para cantar o hino da TV Tupi durante sua inauguração, em setembro daquele ano. Ela aceitou, mas não apareceu na Tupi no dia da apresentação. Sobrou para a amiga Lolita Rodrigues pagar o mico diante das câmeras, ao vivo.
"Nós nos conhecemos aos 15 anos, quando eu trabalhava na Rádio Cultura e ela na Rádio Tupi. E desde então nos tornamos, como ela mesma diz, 'amigas eternas'. E lá se vão 65 anos de amizade. A Hebe faz 80 anos no domingo e eu faço na terça-feira", conta Lolita.
Hebe só estreou de fato como apresentadora em 1953, quando substituiu Roberto Corte Real no programa Musical Manon, na TV Paulista.
"Hebe foi a primeira apresentadora mulher deste País. Além da simpatia e do formato de sucesso de seu programa, temos que respeitá-la e reverenciá-la por ter desbravado este universo tão masculino", conta a apresentadora Maria Cândida.
Em 1955, após clarear as madeixas, Hebe estreou loira no programa O Mundo É das Mulheres, também na TV Paulista, que depois viria a se tornar Rede Globo. Quase dez anos depois, em 1966, foi para a Record, onde se consagrou como apresentadora e entrevistadora, líder de audiência.
"Hebe sempre foi uma inspiração para mim. Me chama muito a atenção o entusiasmo dela no que ela faz. Eu acho que nós duas temos em comum a espontaneidade, o esquema da risada, o pessoal consegue perceber quando não estamos gostando de algo, nós temos a língua mais solta, digamos assim", comenta a apresentadora Silvia Poppovic.
Hebe também já passou pela TV Bandeirantes, no início da década de 1980, e desde 1986 é contratada de Silvio Santos no SBT. Antes de renovar seu contrato com a emissora em dezembro de 2008, a apresentadora foi sondada para retornar à Record, mas preferiu permanecer na mesa emissora, mesmo tendo o salário reduzido.
Especula-se que Hebe ganhava R$ 1,5 milhão e agora receba cerca de um terço do valor (R$ 500 mil), informação que o SBT não confirma.
Pelo sofá branco da apresentadora - que resiste a todas as mudanças de cenário e já é quase uma instituição da televisão brasileira - já passaram cerca de seis mil pessoas.
Outra apresentadora da nova geração que se espelha no trabalho de Hebe Camargo é Ana Hickmann. "Ela é história viva da nossa televisão. Consegue misturar bom humor, informação e verdade em seu trabalho. Não tem medo de expor sua alma na TV", diz a ex-modelo.
Entre as marcas registradas de Hebe - além dos bordões "gracinha" e "lindo de viver" - está o beijo selinho, mania que começou em 1997 após uma brincadeira com a cantora Rita Lee. Desde então várias personalidades já ganharam dela um beijo desse tipo. Durante um programa Teleton, maratona televisiva da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) feita em parceria com o SBT para arrecadar recursos para o tratamento de pacientes, a apresentadora tentou dar um selinho no patrão, mas Silvio Santos recusou-se a beijar Hebe e deu selinho em Gilberto Gil.
Além da personalidade marcante, outra coisa chama a atenção em Hebe: suas jóias. Na coleção há um anel com um diamante de 40 quilates e uma esmeralda de 60 quilates. Hebe ainda tem um brinco com quatro brilhantes que juntos chegam a 80 quilates. O fato de a apresentadora usar roupas caras e ter tantas jóias rendeu-lhe, em 2000, o título de Perua Rainha do Século. Foi receber o prêmio em Salvador usando um vestido Dior, brincos, broche, dois braceletes de diamantes e um anel de rubi.
"Mas ela é uma pessoa muito simples. Desde a época em que a conheci ela é a mesma pessoa, sempre foi muito positiva, muito pra cima. E na vida pessoal, sempre foi uma ótima mãe, uma ótima irmã e uma ótima tia", diz Lolita Rodrigues.
Hebe Camargo e as atrizes Lolita Rodrigues e Nair Bello - morta em 2007 - sempre foram grandes amigas. "Quando estávamos as três juntas tinha sempre muita risada. Agora tenho visto menos a Hebe porque sou muito caseira e ela gosta de sair. Essa semana mesmo ela me mandou o convite do aniversário dela, mas não vou porque já tenho outro compromisso", conta a amiga.
Neste domingo, Hebe recebe 500 convidados para uma festa black-tie. Além disso, no dia 17, embarca para a Disney, nos Estados Unidos, junto com alguns convidados, onde gravará cenas para um programa especial.
Hebe foi casada por duas vezes. Em 1964, casou-se com o empresário Décio Capuano, com quem teve seu único filho, Marcelo, que atualmente mora em uma mansão vizinha à casa da mãe no bairro do Morumbi, em São Paulo. O casamento durou sete anos. Em 1973, a apresentadora se casou com Lélio Ravagnani, com quem permaneceu casada até 2000, quando o empresário morreu.
Em sua casa, atualmente, lhe fazem companhia seis cães, quatro galinhas, uma cacatua, um periquito e um papagaio.
