Arthur Haroyan, o ‘armênio do Jô’, grava ‘Carinha de Anjo’
Ao blog, ator relata as dificuldades de um imigrante na luta pela carreira artística no Brasil
Quem acompanhou as últimas temporadas do Programa do Jô certamente se lembra das entrevistas do ator Arthur Haroyan, nascido na Armênia e radicado no Brasil há quase dez anos.
Carismático, ele impressionou o apresentador e fez sucesso com a plateia ao contar suas histórias e demonstrar uma dança típica de seu país.
Um dos sonhos de Haroyan era conhecer a atriz Aracy Balabanian, também de origem armênia. Após sua aparição na TV, a premiada artista entrou em contato com ele e agendou um encontro.
Arthur acaba de gravar uma participação na novela Carinha de Anjo, exibida desde novembro na faixa das 20h30 do SBT, com a ótima média de 11 pontos de audiência. O ator conversou com o blog.
Como surgiu a oportunidade de fazer uma participação na trama?
Quando eu ainda estava estudando, há uns sete anos, fui fazer figuração em uma novela no SBT pois queria conhecer o meio. Estava tão feliz, até liguei para minha família dizendo que tinha começado a fazer novela (risos). Minha mãe contou que minha avó não saia da frente da televisão pra ver quando eu iria aparecer, porque algumas novelas brasileiras passam lá na Armênia. O diretor da novela percebeu o meu sotaque e começamos a conversar um pouco. Ele sugeriu um teste para o banco de atores do SBT. Meu currículo ficou lá por um bom tempo. Fui chamado para uma participação em ‘Chiquititas’. Fiquei tão feliz que quase não conseguia dormir. Mas, infelizmente, minhas cenas não foram ao ar. Agora fui escalado para fazer um fotógrafo em ‘Carinha de Anjo’. Contracenei com a atriz Ângela Dip. É uma pequena participação, mas para mim é um grande passo.
Como tem sido a batalha pela carreira artística?
Atuo desde os 15 anos, comecei no teatro de drama da minha cidade natal, Vanadzor, na Armênia. Quando cheguei ao Brasil não sabia falar português, não tinha contatos nessa área, não tinha DRT, não sabia pra onde ir… Não tinha dinheiro nem para comer. Comecei do zero, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Para me profissionalizar no Brasil, entrei numa escola de teatro. Paralelamente fiz muitos cursos e, assim, contatos. Era muito difícil; é muito difícil! Nessa área há muita concorrência, mas nunca passou pela minha cabeça desistir, pois é a profissão da minha vida. Se eu não atuar, eu morro. Faço muitos testes, às vezes dou sorte e pego (risos). O ano passado foi bom para mim na publicidade. O sotaque me impede de conseguir alguns papéis, mas às vezes é um ponto favorável. Falo quatro línguas. O meu último trabalho foi o comercial da Mega da Virada ambientado num aeroporto. Atuei em armênio pois o resultado final era pra ficar como uma dublagem de filme americano dos anos 80, sem sincronia com minha boca. Na hora da gravação ninguém entendeu o que eu estava falando. Foi divertido!
Você ficou conhecido como o ‘armênio do Jô’. As participações no programa ainda rendem popularidade a você?
Algumas das minhas conquistas importantes foram graças ao Programa do Jô. Por exemplo, conhecer Aracy Balabanian. Esperei esse encontro por 18 anos. Depois das entrevistas, ganhei muitos fãs que me seguem nas redes sociais e até fiz amizade com alguns deles. É importante para um ator imigrante ser entendido e apoiado fora de seu país. Isso me deixa ainda mais forte e focado na carreira.
Quais seus projetos?
Esse ano promete! Em 2011 formamos um grupo chamado ‘ARCA’, para montar a peça ‘1915’, de minha autoria, sobre o genocídio armênio. Foi um sucesso de público. Nesse ano estamos montando outro espetáculo escrito por mim, ‘Fora Desse Mundo’, com direção de Kleber Góes. O projeto foi escolhido para participar no Festival de Teatro ‘Fringe’, em Curitiba, onde será nossa estreia, e depois faremos para temporada em São Paulo. Estou ainda fazendo uma participação na série ‘Entre o Céu e a Terra’, da TV Brasil. Escrevi o roteiro de um longa inspirado na minha vida, chamado ‘Bolachas Felizes’. O diretor de documentários Spieel Pacheco se interessou pela história e quer fazer um documentário sobre a produção do filme e a minha vida. Se der certo, esse ano vamos gravar aqui e na Armênia. Além disso, pretendo retomar as gravações de uma série culinária no Youtube.
Pingue-pongue:
Melhor novela brasileira: “A Próxima Vítima, na qual conheci a Aracy Balabanian”. (Na trama de 1995, a atriz viveu a poderosa Filomena Ferreto.)
Personagem que gostaria de fazer na TV: “Uma das ‘filhinhas’ da dona Armênia”. (Em ‘Rainha da Sucata’, de 1990, Aracy Balabanian interpretou a inesquecível dona Armênia, que tinha três filhos: Gera/Marcello Novaes, Gerson/Gerson Brenner e Gino/Jandir Ferrari. Por causa do sotaque, ela chamava o trio de marmanjos no diminutivo feminino.)
Ator e atriz com quem sonha contracenar: “Tony Ramos e Bárbara Paz”.
O que existe na TV da Armênia que agradaria ao telespectador brasileiro: “Um programa que mostra a vida de armênios da diáspora. Cada episódio mostra um país, uma cidade diferente. Inclusive, participei da gravação de um episódio que fala sobre a comunidade armênia do Brasil. Na Armênia vivem três milhões de armênios; fora da Armênia, somos 10 milhões”.
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