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É positivo uma repórter da Globo criticar o telejornalismo

23 out 2016 - 11h52
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Foto: Sala de TV

Repercutiu em dezenas de site e blogs um tweet feito por Gioconda Brasil, repórter da Globo em Brasília. "No Brasil não existe cobertura das eleições americanas. Existe torcida pela vitória de Hillary Clinton", postou a jornalista, seguida por 38 mil pessoas no microblog.

A interpretação imediata foi: ela está criticando a própria Globo e o canal de notícias GloboNews, que têm realizado ampla cobertura da corrida à Casa Branca, inclusive com a transmissão ao vivo dos três principais debates e equipes permanentemente na cola da candidata democrata e do republicano Donald Trump.

Gioconda não reagiu ao burburinho provocado por sua postagem para confirmar ou negar essa conclusão quase lógica. Especulações à parte, é positivo que uma repórter com inquestionável credibilidade conteste uma cobertura jornalística e, forçando a análise, questione a imparcialidade dos veículos para os quais trabalha.

Não há dúvida: o telejornalismo brasileiro privilegia Hillary e demoniza Trump. Mas essa aparente distorção ética não é exclusividade nossa.

Nos Estados Unidos, grandes redes de TV também assumem preferência por um candidato, sem que isso abale a confiabilidade jornalística daqueles veículos - ainda que Donald Trump tenha denunciado um complô da mídia contra ele.

A crítica de Gioconda Brasil ganhou repercussão porque não se espera que um global 'ouse' contestar as práticas da emissora. Espera-se autocensura (ou submissão ideológica, se preferir) de quem empunha o poderoso microfone do canal líder em audiência no país.

Ainda que respeite as regras internas, a repórter não parece disposta a abafar o que pensa apenas por ser funcionária da Globo. Ela já havia lançado uma crítica à onda de tramas violentas de Malhação, novela juvenil exibida no fim de tarde.

A observação coerente da repórter da Globo em relação à cobertura das eleições americanas deveria inspirar uma autocrítica da imprensa. Contudo, tal avaliação de acertos e erros é raridade entre os praticantes do quarto poder no Brasil.

Discreta no vídeo e nas redes sociais, Gioconda é uma jornalista bastante respeitada pelos colegas e pela cúpula do canal. Em 2015, venceu as categorias 'Grande Cobertura' e 'Reportagem Factual' do Prêmio Globo de Jornalismo e Esporte.

Foto: Sala de TV
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