'Fina Estampa' começa sem glamour; conheça os personagens
- Márcio Maio
Aguinaldo Silva é um dos novelistas mais talentosos do horário nobre da Globo. "Expert" em histórias de grande popularidade, o autor está mais uma vez na faixa das nove da emissora, agora com Fina Estampa. Uma novela que explora, por duas realidades distintas, quanto o dinheiro pode mudar alguém.
Griselda, personagem de Lília Cabral, é uma portuguesa que batalha para sustentar três filhos e um neto fazendo todos os tipos de consertos pela vizinhança. Já Tereza Cristina, de Christiane Torloni, é uma vilã esnobe e cheia de preconceitos sociais.
Duas mulheres completamente diferentes, mas que se enfrentarão depois que a primeira, já no segundo mês de novela, ganhar na loteria e se tornar a nova milionária do Rio de Janeiro. "É um folhetim clássico, com todas as características do gênero, só que modernizadas. Adaptadas para a época em que vivemos. E que deixa no ar a dúvida de o que vale mais: a aparência ou o caráter?", diz Aguinaldo.
No lugar da Zona Sul do Rio de Janeiro - já reproduzida em dezenas de novelas -, Fina Estampa explora uma região da cidade pouco retratada nos folhetins: a Barra da Tijuca. O bairro é constantemente usado em gravações, mas não costuma ser identificado.
O diretor Wolf Maya evita inclusive gravar em qualquer lugar da cidade que exponha imagens características como o Corcovado e o Pão de Açúcar. "A Barra é diferente do resto da cidade, eu sei. Mas tem características sociais claramente distintas, é tão carioca quanto qualquer outro bairro. O Leblon mesmo só ganhou glamour na tevê depois que o Manoel Carlos escreveu sobre a área", argumenta o autor.
A novela conta com três cidades cenográficas. A primeira reproduz um quarteirão e meio da Rua Olegário Maciel, uma região comercial e boêmia no Jardim Oceânico, sub-bairro da Barra. "Fotografamos e fizemos um levantamento completo da rua, de ponto a ponto, para analisar bem suas características", garante o diretor de arte Mário Monteiro.
A construção tem estacionamentos, recuos, contornos de meio-fio e 14 metros de calçada. Um total de 6.500 m², 4.500 a mais que os usados para erguer o Recanto da Zambembe, comunidade "hippie" com área de meditação e horta orgânica.
O terceiro ambiente é a favela da Muzema, cenário recorrente nas últimas novelas de Aguinaldo Silva. Tem escola de samba, camelódromo e bailes funk. "Tudo foi feito com inspiração real. A gama de cores não é bem definida porque a favela é bem desorganizada quanto ao design", explica Monteiro.
Ao contrário dos últimos folhetins das nove da Globo, a novela não começa com belas paisagens gravadas no exterior. Fina Estampa vai direto ao assunto e, com a apresentação de Griselda aos telespectadores, aborda os diferentes conflitos familiares da trama. A lusitana já aparece de macacão surrado, no meio de uma confusão em casa e, em seguida, consertando uma bomba quebrada de uma rede de vôlei de praia.
"A gente não costuma ver isso. Novela sempre começa com uma fotografia bonita, um lugar paradisíaco, normalmente até fora do País. Aqui não. E acho que isso foi importante para a gente entrar no clima de cara", explica Lília.
Mesmo com a trama centralizada na transformação de Griselda, Fina Estampa parece ser traçada a partir dos conflitos de cinco lares diferentes. Nas de Griselda e Tereza, a discussão é fundamentada em valores éticos, sociais e materiais.
Já o casal pobre Celeste e Baltazar, interpretados por Alexandre Nero e Dira Paes, mora na favela Muzema e vive uma relação brutal, marcada pela agressividade do marido e pelo furor sexual de ambos. "Vejo como um papel extremamente romântico, já que convive com a dor e o amor", analisa Dira.
Em contraponto, aparecem Álvaro e Zambeze, do diretor Wolf Maya e Totia Meirelles. Os hippies mantêm uma união aberta e zen, com direito até a sexo tântrico. E, por último, Paulo e Esther, papéis de Dan Stulbach e Júlia Lemmertz, casal de meia-idade que parece perfeito. Não fosse pelo fato de não conseguir ter um filho. "Isso abre um leque para a discussão da fertilização assistida, que é um assunto bastante polêmico. Bem do jeito que o Aguinaldo gosta", valoriza Wolf Maya.
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