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Remake de 'Gabriela' tem novidades, mas aposta no passado

23 jun 2012 - 13h10
(atualizado às 15h45)
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Mauro Trindade

O modelo de produção que Hollywood criou para o cinema se espraiou há tempos para a TV. Tanto que a novela Gabriela, da Globo, no ar desde a última segunda-feira (17), segue a lógica do remake. Nos Estados Unidos, a partir dos anos 1980, e com mais força nas décadas seguintes, produtores, especuladores e seguradoras consideraram que refilmagens de antigos sucessos do cinema seriam investimentos mais garantidos que novas histórias, de recepção incerta por um público cada vez mais segmentado em todo o mundo. Daí a ideia do remake, apoteose da repetição que também se estende nos sequels, com os mesmos protagonistas e estrutura narrativa que se repetem, em média, em três filmes.

Walcyr Carrasco, autor desta nova Gabriela, chegou a queixar-se de que sua versão não é um remake da adaptação realizada por Walter George Durst em 1975. Realmente não é uma cópia servil da obra anterior, mas o remake abriga desde transformações narrativas quanto à utilização de novas tecnologias sobre o trabalho que o antecede. O que importa é a consolidação de uma nova produção sobre o lastro de uma mais antiga, o que atrai velhos fãs e conquista novos espectadores.

Diferenças bem maiores afastam livro e novela. Tanto que tanto a adaptação de Walcyr Carrasco quanto de Durst adiaram o assassinato de Sinhazinha e Osmundo para os capítulos mais à frente, enquanto no romance o crime ocorria antes do turco Nacib conhecer a mulata Gabriela. É um momento especial da obra de Jorge Amado que só se concretiza lá pela página 155. E sexo, umas 40 páginas mais à frente. De qualquer forma, retardar acontecimentos na TV é uma boa maneira de apresentar os personagens, desenvolver a trama e deixar um pouco do enredo para mais tarde.

Fica difícil imaginar uma retirante famélica com as corcovas de Juliana Paes, mas licença poética é assim mesmo. A atriz criou uma Gabriela mais atrevida que a de Sônia Braga, cujo principal encanto na interpretação era o jeito moleque e natural de encarar o sexo. Juliana Paes é mais lúbrica, onde Sônia Braga era mais, digamos, "distraída".

Mas o grande destaque fica com Humberto Martins, na pele de um parvo turco cujos olhos só alcançam as pernas de moças e as portas de seu botequim. Depois de anos subestimado como um "descamisado" em novelas de duplo sentido, agora concretiza um papel maduro, dividido entre desejo e insegurança.

Outros personagens tendem a crescer nas próximas semanas. José Wilker representa com secura o coronel Jesuíno Mendonça, enquanto o Coronel Ramiro Bastos de Antonio Fagundes só se afasta de outros personagens do ator pelo mau sotaque nordestino. Falta uma certa malícia política ao Mundinho Falcão de Mateus Solano, quase um bom rapaz. O Bataclan mequetrefe da versão de 1975 ganhou uma produção mais esmerada e certo ar de "bas-fond" parisiense.

Na estreia, a expectativa por cenas de nudez mais generosas ainda não se concretizou. E, mesmo assim, marcou 30 pontos. Com mais alguns agarros caprichados, pode encostar na novela das nove.

Juliana Paes, a nova 'Gabriela' é mais atrevida que a de Sônia Braga, que parecia "distraída" perante ao sexo
Juliana Paes, a nova 'Gabriela' é mais atrevida que a de Sônia Braga, que parecia "distraída" perante ao sexo
Foto: Divulgação / TV Press
Fonte: TV Press
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